1. Que textos podem constituir-se como fonte e modelo dos usos linguísticos normativos? Esta é a pergunta de um debate inesgotável que nos últimos tempos, no Brasil, tem motivado intervenções críticas de certas conceções da norma culta com origem universitária. Em Controvérsias, transcreve-se com a devida vénia um apontamento do gramático Fernando Pestana, que, sobre a questão, reúne alguns dados e se interroga sobre o valor dos textos jornalísticos como fonte confiável da norma-padrão. Este é mais um texto que se soma aos que o Ciberdúvidas tem recolhido a propósito do problema da definição da norma culta e do da autonomia da variedade brasileira; são eles: "'Me empurra' e 'empurra-me'", "Norma culta brasileira", "Era uma vez um estrangeiro que desejava aprender 'brasileiro'", "Quem dera que fosse ficção...", "Sabe aquela sensação... ?", "A evolução esbarra na educação", "Os 'peixe'", "Ó pá, fique lá com o seu gerúndio e deixe o Camões em paz!", "Bilinguismo luso-brasileiro", "Sobre a língua brasileira", "'O brasileiro'?!", "O 'jeitinho brasileiro' de falar ", "O português de Portugal está em risco?".
Na imagem, Fonte da Pipa, c. 1915, aguarela sobre cartão, de Álvaro da Fonseca (1887-1920) (crédito: Almada na História. Boletim de Fontes Documentais, 27/28, 2014).
2. É inegável o progresso dos tradutores automáticos, mas serão eles de fiar? No Pelourinho, o consultor Paulo J. S. Barata dá conta da confusão entre férias e feriados num aviso em que provavelmente a tradução automática do italiano para o português não correu da melhor maneira. Na mesma rubrica, o jornalista José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, assinala a frequente prolação errada do topónimo Salém em noticiários das televisões portuguesas, acerca da peça As Bruxas de Salém, do dramaturgo norte-americano Arthur Miller, em cena até 06/10/2014 no Teatro São João (Porto).
3. A frase «chegando a casa, foi dormir» terá ou não o mesmo significado que «tendo chegado a casa, foi dormir»? Na presente atualização do Consultório, além dos valores das formas simples e composta de gerúndio, são tópicos em questão a correção dos termos reconchegar e deleonismo, o significado de «primos paralelos» e «primos cruzados», a diferença semântica entre os adjetivos choroso, lagrimoso e plangente, a vírgula entre duas conjunções seguidas, a grafia de niilismo, o uso de artigo definido com determinante possessivo, o uso demonstrativo de o numa estrutura de coordenação e a expressão «fora de órbita».
4. No século XIX, a influência da língua francesa foi especialmente intensa em Portugal, país que, entre 1807 e 1810, também se confrontou com o poder militar de França, ao sofrer três invasões dos exércitos de Napoleão. Em O Nosso Idioma, a consultora Inês Gama explora algumas das expressões idiomáticas alusivas aos contactos históricos entre Portugal e França. Ainda em O Nosso Idioma, a consultora Sara Mourato aborda a origem e significado de fanfic, termo referente a um tipo de narrativa geralmente criada e partilhada por fãs na Internet, utilizando personagens ou universos de obras já existentes.
5. Comemora-se em Portugal a implantação da República, ocorrida em 5 de outubro de 1910. Relativamente a aspetos associados à palavra república, sugere-se a consulta de "Os usos de bolsonarista, a função dos adjetivos, a «ocidental praia lusitana» e o nome república", "'Viva a República' e 'vivà República'" e "As palavras república e monarquia". Registe-se que, na mesma data, se celebra o Dia Mundial dos Professores.
6. Em 2024, o anúncio dos Prémios Nobel faz-se entre 7 e 14 de outubro (cf. página em inglês da organização do Prémio Nobel), e a Academia das Ciências de Lisboa (ACL) promove um encontro de especialistas em 23 e 24 de outubro «para discutir as contribuições e mérito dos galardoados com os Prémios Nobel 2024» (mural da ACL no Facebook em 04/10/2024). Como sempre, convém aqui lembrar que o nome Nobel deve pronunciar-se como palavra aguda, isto é, como "nobél", e não "nóbel". Sugere-se a (re)leitura de alguns dos muitos conteúdos que o Ciberdúvidas dedica ao tema: "Nobel", "Nóbel ou Nobél?", "Ainda o Nobel", "Como (bem) dizer ONU e Nobel... em português", "Fugiu o Nobel, ficou o erro", "Nobel, palavra oxítona (aguda): /Nobél/", "Outra vez a pronúncia de Nobel".
7. Recorda-se que decorre, até 6 de outubro p. f., o 39.º Colóquio da Lusofonia, uma iniciativa do jornalista e escritor Chrys Chrystello. Nesta edição, que tem lugar na Biblioteca Municipal de Vila do Porto (Santa Maria, Açores), são homenageados os escritores Pedro Almeida Maia e Arsénio Puim, bem como, postumamente, Helena Chrystello, vice-presidente da Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia.
8. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:
– No programa Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 04/10/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a professora universitária Rita Marnoto (Universidade de Coimbra) fala sobre Camões e a identidade literária do português. Discutem-se ainda o papel do épico na consolidação da nossa língua como veículo literário e os reflexos que Os Lusíadas eternizam na língua e na cultura portuguesas.
– Camões é também o tema principal da conversa com a professora jubilada Fátima Mendonça (Universidade Eduardo Mondlane) em Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, 06/10/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 12/10/2024, às 15h30*). O programa inclui também um apontamento gramatical de Inês Gama, que esta semana discorre sobre os termos elegível e ilegível.
– Igualmente na Antena 2, refira-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.