1. A atualidade política no Brasil, com a votação no Congresso de Deputados do processo de destituição de Dilma Rousseff, deu realce, de novo, a dois usos linguísticos marcantes para além, já, dos meios de comunicação nacionais: a preferência pelo anglicismo impeachment em detrimento de qualquer dos muitos vocábulos correspondentes em português, e o ainda mais controverso feminino “presidenta”, opção tomada desde a primeira hora pela própria Dilma Rousseff, desde que ascendeu ao cargo ora posto em causa. Os registos do primeiro nos media espanhóis deram já lugar a uma recomendação da Fundéu BBVA para o castelhano, ao encontro, afinal, do que se recomenda para o português1. Quanto ao segundo, lembramos a polémica antiga, abordada, por exemplo, aqui, aqui e aqui.
1 Várias alternativas em português: afastamento, impugnação [de mandato], demissão, destituição, deposição, impedimento, etc., etc.
2. Do Brasil, os ecos de uma outra recente polémica – à volta da sua anunciada nova Base Nacional Comum Curricular, que retira a obrigatoriedade do ensino da literatura portuguesa nas escolas brasileiras – mereceram um artigo crítico da ex-ministra portuguesa da Cultura em Portugal, Isabel Pires de Lima, que deixamos disponibilizado também na rubrica Controvérsias.
3. Neste mesmo espaço, acolhemos duas outras querelas:
– A iniciativa do Bloco de Esquerda para a mudança da denominação do cartão do cidadão, em Portugal, por considerá-la «linguagem sexista», deu azo ao questionamento da relação do género gramatical com as desigualdades sociais. Não será verdade que, ao dizermos «os portugueses», submetendo a referência às mulheres a essa generalização, estamos a subalternizar a população feminina? Ou será a expressão «portuguesas e portugueses» um preciosismo desnecessário, porque os morfemas associados ao género masculino, afinal, também se aplicam referencialmente ao género feminino? Ou seja: a "gramática ainda não tem sexo", como escreveu o jornalista Henrique Monteiro, em crónica dada à estampa no semanário Expresso, de 16/04 p.p.?
– E, regressando ao tema dos pronomes átonos, com a resposta de Isabel Casanova à contestação de um consulente ao artigo que a linguista e professora universitária subscreveu com o título A colocação dos pronomes clíticos no Ciberdúvidas em 13 de abril p.p. O que está em discussão: deverá sempre dizer-se «sem se privar»? Numa oração de infinitivo, não é possível colocar o pronome depois do verbo (ênclise): «sem privar-se»?
4. Finalmente, no consultório, respondemos a três dúvidas: o adjetivo prejudicial tem regência? Qual poderá será a origem do apelido/sobrenome Viríssimo? E o que significa o galicismo capitonné?