Na sequência da publicação do texto "A colocação dos pronomes clíticos, ou a proliferação dos erros induzidos", de Isabel Casanova, um consulente devidamente identificado (mas com o pedido de reserva pública do nome, por razões profissionais), fazendo referência indireta à Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, enviou ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa em 13/04/2016, a seguinte observação:
«Há erro na postagem de hoje da professora Isabel Casanova.
Como se pode ler noutras páginas e em gramáticas, por exemplo postagem do site dicionarioegramatica.com também de hoje, a autora erra ao dizer que o certo teria de ser "sem se privar", em vez de "sem privar-se".»
Segue-se a réplica de Isabel Casanova.
Não me parece nada estranho que Cunha e Cintra discordem da minha explicação [na sua Nova Gramática do Português Contemporâneo]. Se [o consulente] a leu bem – ou será que defende que se pode dizer: *«Se leu-a bem»? – terá reparado que, nesta questão, critico a incoerência dos seus autores, e por isso não admira que eles defendam outras regras. Eu sei que é uma gramática muito divulgada, vendida e respeitada. Eu própria a recomendo (com reservas), eu própria fui aluna e colega de Lindley Cintra, mas isso não torna a gramática perfeita. Nesta área, e noutras, não se lhe aplica o princípio de magister dixit, pois nesta área, e noutras, não se apresenta correta.
Chamo a atenção para o facto de os três exemplos registarem a ênclise apenas em dois exemplos da literatura brasileira. Na frase de Guerra Junqueiro: «Canta-me cantigas para me embalar» e, na p. 153, «Viaja então para se contrafazer», é a próclise. Tal como a colega da anterior explicação no Ciberdúvidas, que transcrevo abaixo para lembrar, «a colocação do pronome nos exemplos 2 e 3 também me causa muita estranheza.»*
Não lhe parece estranho que, alegando que a "acentuada tendência" é nestes casos a ênclise, como diz o texto que [o Dicionarioegramatica.com] citou, o exemplo escolhido como representativo tenha sido de próclise?
Talvez devêssemos repensar, e não apenas citar opiniões.
O Corpus do Português apresenta 965 ocorrências da estrutura «sem se + infinitivo» com o pronome em posição proclítica.
* Edite Prada, "O emprego de pronomes nas orações subordinadas finais", in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 21/01/2010 (consultado em 14/04/2016).