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1. Os resultados das recentes eleições em Portugal criaram um novo cenário sociopolítico: a ascensão da extrema-direita a uma posição de poder. Esta alteração do mapa político está em linha com o que vemos acontecer um pouco por todo o lado no mundo, em países em que emergem líderes alinhados com determinados valores comuns e que se socorrem de determinadas estratégias associadas ao populismo. Yves Citton*, professor de literatura e media na Universidade de Paris 8 Vincennes e também co-diretor da revista Multitudes, tem vindo a analisar este fenómeno, que designa de direitização, um neologismo (já dicionarizado em português) resultante da tradução do neologismo francês "droitisation", palavra derivada, formada pela junção do sufixo do francês antigo -ation (com valor de ação) à base verbal droitis(er), que significa «dar uma orientação de direita a algo ou a alguém». Em português, a palavra direitização assenta também na estrutura de derivação (direitiza(r)+-ção). Este termo, que foi também referido pelo crítico literário e colunista António Guerreiro num artigo no jornal Público, associa-se ao pressuposto de que as atuais direitas correspondem ao que, anteriormente, se considerava extrema-direita, estando em curso o aparecimento de direitas ainda mais extremadas. Yves Citton reflete sobre o tema na obra La Machine à Faire Gagner les Droites (em tradução livre, «A máquina de fazer ganhar as direitas»), onde defende que a máquina que faz ganhar os novos partidos de direita não assenta em políticas ou ideologias mas no poder dos meios de comunicação social (os media), o que o leva a defender que vivemos não já em democracia (do grego demos + kratía, «a força do povo»), mas numa "mediarquia", um outro neologismo (também título de uma obra sua) que resulta da junção de media ao elemento -arquia («poder, autoridade»») e que procura explicar que atualmente é o poder dos media que determina a constituição de públicos que elegem os representantes políticos (e não já o povo). Como sempre, novas realidades convocam o pensamento humano que, para se expressar, necessita de novas palavras: o dinamismo lexical acompanha o dinamismo e a transformação do mundo. 

*Yves Citton poderá ser ouvido em Lisboa, na Culturgest, no dia 28 de Maio às 19h, onde proferirá uma conferência sobre um tema do qual é especialista: a atenção.

Primeira imagem: capa do livro Palavras amordaçadas - Ditadura militar e jornalismo na paraíba, de Sebah Andrade e Ana Dayra; Segunda imagem: criada por IA. 

2. Terá a expressão «de cabeça para baixo» origem brasileira ou encontramos registos do seu uso em documentos portugueses de fases pretéritas da língua? A resposta a esta questão abre a atualização do Consultório, onde se poderá encontrar resposta para novas dúvidas: «As orações de infinitivo pessoal têm sujeito?»; «A interjeição pode ser um recurso expressivo?»; «Podemos dizer «estar preparado para confrontar os seus temores»?» e «Quais os processos de referenciação anafórica presentes num excerto textual?»

3. A diferença de significação entre os termos dicionário e glossário dá tema ao desafio semanal, da responsabilidade da professora Carla Marques (divulgado no programa de rádio Páginas de Português, na Antena 2). 

4. Ainda sobre o gramático Evanildo Bechara, recentemente falecido, o gramático Fernando Pestana, em jeito de homenagem, deixa o registo de um conjunto de memórias relativas a ocasiões em que estiveram juntos.

5. A afirmação da língua guineense está na ordem do dia na Guiné, onde um conjunto de especialistas procura dar continuidade ao trabalho de normalização, de construção de uma gramática e de definição do alfabeto oficial. O encontro que teve lugar no dia 9 de maio, na sede da Bienal de Arte e Cultura da Guiné-Bissau, procurou criar as condições para que se deem os primeiros passos, como se relata no apontamento da jornalista Karyna Gomes (disponibilizado com a devida vénia). 

6. Um registo final para a conferência do professor de Literatura Portuguesa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Sérgio Nazar David, na qual o investigador abordará os 180 anos de Eça de Queirós. O evento terá lugar na quinta-feira, 29 de maio, às 17h30, com entrada livre e transmissão em direto (mais informações aqui). 

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