Imagem da abertura

1. A Comissão Europeia veio recomendar a criação de um kit de sobrevivência, que permita resistir durante 72 horas numa situação de crise, como um desastre natural ou um conflito armado. O anúncio foi recebido com alguma preocupação pelos europeus, preocupados com os verdadeiros motivos por detrás deste alerta. Alguns especialistas interpretam esta ação como uma «estratégia de linguagem securitária», que visa preparar psicologicamente os cidadãos para a aceitação de determinadas decisões políticas, particularmente no campo do armamento e da defesa, áreas sensíveis no atual contexto geopolítico. Neste âmbito, destaca-se a palavra kit (com o plural kits), um empréstimo do inglês, que entrou com esta forma em várias línguas e que se encontra já dicionarizada, não tendo sofrido qualquer processo de adaptação à língua portuguesa. Embora este vocábulo tenha entrado nos usos quotidianos e o seu significado seja transparente para a maioria dos falantes, será sempre possível substituí-lo por outros termos de matriz mais portuguesa para diversificar os recursos lexicais. Assim, para referir a realidade em questão, propomos também o uso de construções como «pacote de sobrevivência» ou «jogo de sobrevivência». Registe-se, ainda, que no discurso político mundial está em voga um conjunto de palavras pertencentes ao campo lexical de crise, associada ao mundo digital e às suas consequências no cidadão comum, o que esperemos não seja sinal de anúncio de tempos (ainda) mais conturbados. Ei-las: autossuficiência, cibersegurança, ciberataque, conflito e sobrevivência

2. Alertar para o facto de uma situação estar a ser referida em «sentido figurativo» é deixar-se cair numa das armadilhas da paronímia. Esta incorreção, detetada num direto televisivo, motiva a explicação do consultor Paulo J. S. Barata, disponível na rubrica Pelourinho. 

3. Tanto a palavra grémio como a palavra guilda podem ser usadas para referir associações comerciais. No entanto, qual será o vocábulo com mais tradição de uso no português? A explicação é apresentada nesta resposta que integra a atualização do Consultório. Poderão também ser consultadas respostas no âmbito das áreas da significação lexical («A expressão numa fração de segundo»), da formação de gentílicos («Habitante de Getafe»), da sintaxe («O verbo juntar e o pronome lhe», «Faltar com oração de infinitivo», «Referir um jornal com nome em inglês») e da pragmática («Atos ilocutórios e a frase «está combinado»). 

4. A conjunção mas tem habitualmente um valor contrastivo. No entanto, assinalam-se usos nos quais surge com um valor aditivo, equivalente ao da conjunção e, tal como explica a professora Carla Marques no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2. 

5. Ainda no quadro do bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco, o jornalista e político português Alfredo Barroso evoca a rica e contraditória biografia camiliana, que sintetiza deste modo: «Camilo foi transformado, pouco a pouco, numa legenda áurea, numa lenda etérea, num verdadeiro Santo. O que bem se compreende, é mais que justo e de todo merecido. Mas a alma dele é, simultaneamente, tão negra e tão pura, desafiou o demónio tantas vezes e tais, provocou e sofreu tantas dores cá na Terra [...]», num apontamento de cariz biográfico, que se poderá ler na rubrica Literatura

6. Entre os eventos de referência, damos destaque a:

– Debate promovido pela Associação de Professores de Português, em torno do tema do português do Brasil em sala de aula em Portugal, no dia 28 de abril, entre as 17h e as 20h (evento a distância; inscrições abertas); 

Falecimento da escritora brasileira Heloisa Teixeira, que assinou muitas das suas obras como Heloisa Buarque de Hollanda, uma forte voz do feminismo brasileiro;

Dia Mundial da Conciencialização sobre o autismo, assinalado a 2 de abril;

Colóquio Internacional António Jacinto, poeta e guerrilheiro, com lugar a 4 de abril, na Biblioteca Nacional de Portugal; 

– Abertura na Academia das Ciências de Lisboa das candidaturas para o prémio Alberto Sampaio: os estudos, sobretudo no âmbito da História Social e Económica, poderão ser enviados até ao dia 31 de maio (mais informações aqui).

Ver mais
Ciberdúvidas Responde/ Ciberdúvidas Vai às Escolas