
1. Em Portugal, comemora-se o 25 de Abril de 1974, data que marca a instauração do regime democrático no país, a descolonização e uma aproximação à Europa que culminou em 1986 com a adesão à então chamada Comunidade Económica Europeia, à qual sucedeu em 1993 a União Europeia. Um aniversário é sempre ocasião para balanços e justifica-se recordar o que mais interessa nestas páginas: o impacto linguístico desse acontecimento de há 51 anos, que diz também respeito aos países africanos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa e às normas nacionais que neles vão emergindo. Sobre a efeméride, cabe, portanto, sugerir a (re)leitura dos muitos conteúdos aqui disponíveis, referentes aos caminhos percorridos pela nossa língua comum neste meio século: "Palavras que nasceram com a década [1974-1984]"; "O 25 de Abril no léxico português"; "Revolução"; "Ponte 25 de Abril"; "Nos 30 anos do 25 de Abril"; "Palavras do 25 de Abril (1974-2014)"; 47 palavras nos 47 anos do 25 de Abril; "48 expressões e palavras nos 48 anos do 25 de Abril"; "Nomes que avivam memórias, neste outro 25 de Abril: 49 anos de vida e cultura democráticas"; "50 palavras nos 50 anos do 25 de Abril"; "Viva a liberdade!"; "O 25 de Abril e a afirmação da língua portuguesa em África" ; "As palavras e a mudança: do 25 de Abril à era tecnológica, da extensão semântica à eliminação lexical";
Como o 25 de Abril é feriado em Portugal, a próxima atualização fica agendada para 29 de abril. Na imagem, Cravos de Abril, da artista plástica Argentina Alarcão (cf. blogue O Carteiro da Saudade, "Os cravos de abril", 07/03/2019).
2. Entre os temas da atualidade, destaca-se, em 21/04/2025, a morte do Papa Francisco. Sobre o argentino Jorge Mario Bergoglio, nome de batismo do falecido papa, escreve a jornalista Inês Moreira Santos (RTP, 21/04/2025): «Sumo Pontífice desde março de 2013, Francisco iniciou uma nova era no Vaticano, marcada pela simplicidade, a humildade e um percurso de proximidade ao mundo.» Com o desaparecimento de Francisco, cujas exéquias têm lugar em 26 de abril, a comunicação mediática ativa léxico associado ao processo de escolha do novo papa. Salientem-se dois vocábulos: conclave, «reunião do sacro colégio de cardeais, convocado para eleger um novo pontífice» ou «aposento do Vaticano onde se dá tal reunião, a portas cerradas», do latim conclāve, is , na aceção de «toda a parte de uma casa fechada a chave, quarto, alcova» (Dicionário Houaiss); e camarlengo ou camerlengo, «cardeal que preside à Câmara Apostólica, e exerce a autoridade papal num interregno pontifício», termo que adapta o italiano camerlengo, que, por sua vez, tem origem no germânico kamerlinc, «inspetor da câmara» (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa).
Sobre palavras e expressões valorizadas ou criadas pelo Papa Francisco – «Alzheimer espiritual», «desertificação espiritual», «economia da exclusão», «globalização da indiferença» ou «revolução da ternura» –, mencione-se Dicionário Bergoglio: as Palavras-Chave de um Pontificado (Farol, 2022), tradução para o português da obra Dizionario Bergoglio: le Parole Chiave di un Pontificato, do filósofo e teólogo catalão Francesc Torralba (mais informação aqui e aqui). Sobre a etimologia de papa, ler aqui.
3. Dois textos entram na rubrica O Nosso Idioma: "Ainda se diz 'uma bica, se faz favor'?", da consultora Inês Gama, que se refere à origem de bica como designação do café servido numa chávena pequena (o também chamado «café expresso»); e "Colocação pronominal: português do Brasil x português europeu", apontamento em que o gramático Fernando Pestana contesta a ideia de a sintaxe pronominal estar claramente diferenciada no Brasil e em Portugal.
4. A Diálogos com Lídia Jorge (Edições Dom Quixote), da autoria de Carlos Reis, professor catedrático emérito da Universidade de Coimbra, a escritora e professora universitária Dora Nunes Gago dedica o apontamento "Da magnífica arte de dialogar ", que se inclui na rubrica Literatura. Trata-se de «uma publicação essencial, não apenas para alargarmos o nosso conhecimento da obra de Lídia Jorge, mas sobretudo, para nos enriquecermos com a discussão de temas atuais do mundo, da sociedade portuguesa, que nos ajudam a entender o passado e o presente e a equacionarmos o futuro».
5. Na frase «Ela tem olhos brilhantes feito o Rei Sol», reconhece-se um uso de feito que é típico do português do Brasil, conforme se comenta na atualização do Consultório. São ao todo sete novas respostas que abrangem as áreas do léxico – "A expressão 'tomar estado'" e "Unção e ungir" –, da semântica – "O advérbio especificamente" e "Os valores semânticos da preposição com" –, das classes de palavras – "Como, palavra denotativa de explicação (Brasil)" – e da sintaxe – "Concordância entre pessoa e herói".
6. Voltando ao campo literário, assinala-se em 23 de abril o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. É uma celebração proclamada em 1995, na 28.ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e inspirada numa tradição catalã segundo a qual os cavaleiros ofereciam às suas damas uma rosa vermelha de São Jorge (Sant Jordi) e, em troca, recebiam um livro como testemunho dos seus atos de bravura (Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor 2025, Eurocid). Recorde-se que o Rio de Janeiro é, em 2025, a Capital Mundial do Livro, tornando-se assim a primeira cidade de língua portuguesa a receber este título (ibidem).
7. Refiram-se ainda dois dos programas que, na rádio pública de Portugal, divulgam e debatem temas da língua portuguesa:
– Língua de Todos, na RDP África, transmitido na sexta-feira, pelas 13h20, e repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00);
– Páginas de Português, na Antena 2, ao domingo, pelas 12h30, e repetido no sábado seguinte, às 15h30.
*Hora oficial de Portugal continental, ficando depois ambos os programas disponíveis aqui e aqui.