Nas frases apresentadas pela consulente, há várias situações a considerar.
Vejamos em primeiro lugar as frases que incluem uma oração subordinada completiva. Nestes casos, o tempo verbal da oração subordinada depende do da oração subordinante. Assim, quando o verbo da oração subordinante se encontra no pretérito imperfeito ou no pretérito perfeito do indicativo, o verbo da oração subordinada surge no imperfeito do conjuntivo (no Brasil, subjuntivo), indicando que a situação descrita na oração subordinada se localiza num intervalo de tempo posterior ao da situação descrita na subordinante. É o que se verifica na seguinte frase (selecionada entre as que a consulente apresenta):
(1) «Esperava que o teu irmão trouxesse a Joaninha.»
(2) «Era possível que elas viessem ao ginásio.»
No entanto, esta mesma construção permite localizar a situação da subordinada num intervalo de tempo anterior ao da situação da subordinante, se introduzirmos na frase um advérbio de tempo, como acontece nas frases (3) a (5):
(3) «Foi pena que os teus irmãos não pudessem vir ontem à festa.»
(4) «Foi pena que a Joana não viesse a nossa casa ontem.»
(5) « Ele queria que tu fosses ao escritório dele ontem à tarde.»
O aparecimento do verbo da oração subordinada no pretérito perfeito composto fica dependente do verbo da subordinante, que terá de ocorrer no presente do indicativo. Nesta situação, o pretérito perfeito composto localiza a situação num tempo anterior ao do da subordinante. As frases (6) e (7) enquadram-se nesta descrição:
(6) «É pena que os teus irmãos não tenham podido vir (ontem) à festa.»
(7) «É pena que a Joana não tenha vindo a nossa casa (ontem).»
Note-se, então, que as frases (8), (9) e (10) são duvidosas ou mesmo inaceitáveis, uma vez que o verbo da subordinante se encontra no pretérito perfeito ou imperfeito do indicativo:
(8) «?Foi pena que os teus irmãos não tenham podido vir ontem à festa.»
(9) «?Foi pena que a Joana não tenha vindo a nossa casa ontem.»
(10) «*Era possível que elas tenham vindo ao ginásio.»
O uso do mais-que-perfeito do conjuntivo na oração subordinada é possível, desde que o verbo da subordinante se encontre no pretérito perfeito ou no pretérito imperfeito do indicativo. A frase, no seu todo, expressa uma localização temporal anterior ao momento da enunciação e a situação da oração subordinada é descrita como sendo anterior ao da subordinante:
(11) «Foi pena que os teus irmãos não tivessem podido vir (ontem) à festa.»
(12) «Foi pena que a Joana não tivesse podido vir a nossa casa (ontem).»
(13) «Esperava que o teu irmão tivesse trazido a Joaninha.»
(14) «Ele queria que tu tivesses ido ao escritório dele (ontem à tarde).»
(15) «Era possível que elas tivessem vindo ao ginásio.»
Outra realidade presente nas frases apresentadas é a das que incluem uma oração subordinada adverbial. Neste contexto, surgem casos de orações subordinadas adverbiais concessivas, que passaremos a analisar. As frases selecionadas pela consulente são concessivas contrafactuais, i.e., apresentam um valor não real ou irrealizável. Neste contexto, tradicionalmente, as orações subordinadas que recorrem ao pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo combinam-se com o mais-que-perfeito composto do indicativo ou o condicional composto na oração subordinante. É o que acontece em
(16) «Mesmo que eles o tivessem visto, nunca teriam podido falar com ele.»
É possível, todavia, exprimir este valor com recurso ao imperfeito do conjuntivo combinado com o condicional na subordinante:
(17) «Mesmo que eles o vissem, nunca teriam podido falar com ele.»
A frase (18) não é possível porque o recurso ao pretérito perfeito do conjuntivo na subordinada aponta para um valor factual da concessiva que não é compatível com o uso do condicional composto na subordinante:
(18) «*Mesmo que eles o tenham visto, nunca teriam podido falar com ele.»
A consulente apresenta também um conjunto de frases que incluem a estrutura «por mais que», que se pode considerar entre as introdutoras de orações concessivas. Neste caso particular, são apresentados dois tipos de concessivas: as factuais, como em (19) ou (29) , que apresentam o imperfeito ou o pretérito perfeito do conjuntivo na subordinada e o pretérito perfeito na subordinante:
(19) «Por maiores que fossem os problemas, ele não desistiu.»
(20) «Por maiores que tenham sido os problemas, ele não desistiu.
Já a frase que apresenta o mais-que-perfeito do conjuntivo é incorreta, porque o recurso ao mais-que-perfeito do conjuntivo na subordinada aponta para um valor contrafactual que exigiria o uso do mais-que-perfeito composto do indicativo ou o condicional na subordinante:
(21) «*Por maiores que tivessem sido os problemas, ele não desistiu.»
As frases introduzidas por oxalá constituem frases optativas, que têm tipicamente o verbo no conjuntivo. A diferença nos tempos verbais está relacionada com um desejo hipotético, em (22), ou um desejo contrafactual, em (23):
(22) «Oxalá o Pedro tenha chegado antes da Paula, ontem à noite.»
(23) «Oxalá o Pedro tivesse chegado antes da Paula, ontem à noite.»
Finalmente, as frases introduzidas pelo advérbio talvez associam-se ao uso do conjuntivo para expressar um valor de probabilidade real, em (24), ou hipotética, em (25) e (26):
(24) Talvez ele não tenha podido ir à reunião.
(25) Talvez ele não pudesse ir à reunião.
(26) Talvez ele não tivesse podido ir à reunião.
Em nome do Ciberdúvidas, agradeço as palavras gentis que nos endereça.
Disponha sempre!
? marca a aceitabilidade duvidosa da frase.
* assinala a agramaticalidade da frase.