DÚVIDAS

Uso do conjuntivo/subjuntivo em orações subordinadas

Gostaria de saber se todas as frases seguintes estão corretas e, caso não estejam, qual a razão para isso.

Gostaria também de saber que diferenças de significado existem entre as diferentes frases, caso existam.

Por fim, gostaria que, se possível, apresentassem as regras gerais que determinam o uso destes três tempos verbais.

Muitíssimo obrigada por este maravilhoso serviço!

(1) Foi pena que os teus irmãos não pudessem vir ontem à festa. Foi pena que os teus irmãos não tenham podido vir ontem à festa. Foi pena que os teus irmãos não tivessem podido vir ontem à festa.

(2) Era possível que elas viessem ao ginásio. Era possível que elas tivessem vindo ao ginásio. * Era possível que elas tenham vindo ao ginásio.

*(Não está correta, mas gostaria de perceber a razão. Está relacionada com o uso do imperfeito do indicativo no início? Existe alguma regra geral que determine a impossibilidade de usar o pretérito perfeito composto do conjuntivo quando se usa o imperfeito do indicativo?).

(3) Por maiores que fossem os problemas, ele não desistiu. Por maiores que tenham sido os problemas, ele não desistiu. Por maiores que tivessem sido os problemas, ele não desistiu.

(4) Esperava que o teu irmão trouxesse a Joaninha. Esperava que o teu irmão tivesse trazido a Joaninha.

(5) Ele queria que tu fosses ao escritório dele ontem à tarde. Ele queria que tu tivesses ido ao escritório dele ontem à tarde.

(6) Mesmo que eles o vissem, nunca teriam podido falar com ele. Mesmo que eles o tivessem visto, nunca teriam podido falar com ele. Mesmo que eles o tenham visto, nunca teriam podido falar com ele.

(7) Foi pena que a Joana não viesse a nossa casa ontem. Foi pena que a Joana não tivesse podido vir a nossa casa ontem. Foi pena que a Joana não tenha vindo a nossa casa ontem.

(8) Talvez ele não tenha podido ir à reunião. Talvez ele não pudesse ir à reunião. Talvez ele não tivesse podido ir à reunião.

(9) Oxalá o Pedro tenha chegado antes da Paula, ontem à noite. Oxalá o Pedro tivesse chegado antes da Paula, ontem à noite.

Resposta

Nas frases apresentadas pela consulente, há várias situações a considerar.

Vejamos em primeiro lugar as frases que incluem uma oração subordinada completiva. Nestes casos, o tempo verbal da oração subordinada depende do da oração subordinante. Assim, quando o verbo da oração subordinante se encontra no pretérito imperfeito ou no pretérito perfeito do indicativo, o verbo da oração subordinada surge no imperfeito do conjuntivo (no Brasil, subjuntivo), indicando que a situação descrita na oração subordinada se localiza num intervalo de tempo posterior ao da situação descrita na subordinante. É o que se verifica na seguinte frase (selecionada entre as que a consulente apresenta):

(1) «Esperava que o teu irmão trouxesse a Joaninha.»

(2) «Era possível que elas viessem ao ginásio.»

No entanto, esta mesma construção permite localizar a situação da subordinada num intervalo de tempo anterior ao da situação da subordinante, se introduzirmos na frase um advérbio de tempo, como acontece nas frases (3) a (5):

(3) «Foi pena que os teus irmãos não pudessem vir ontem à festa.»

(4) «Foi pena que a Joana não viesse a nossa casa ontem

(5) « Ele queria que tu fosses ao escritório dele ontem à tarde

O aparecimento do verbo da oração subordinada no pretérito perfeito composto fica dependente do verbo da subordinante, que terá de ocorrer no presente do indicativo. Nesta situação, o pretérito perfeito composto localiza a situação num tempo anterior ao do da subordinante. As frases (6) e (7) enquadram-se nesta descrição:

(6) «É pena que os teus irmãos não tenham podido vir (ontem) à festa.»

(7) «É pena que a Joana não tenha vindo a nossa casa (ontem).»

Note-se, então, que as frases (8), (9) e (10) são duvidosas ou mesmo inaceitáveis, uma vez que o verbo da subordinante se encontra no pretérito perfeito ou imperfeito do indicativo:

(8) «?Foi pena que os teus irmãos não tenham podido vir ontem à festa.»

(9) «?Foi pena que a Joana não tenha vindo a nossa casa ontem.»

(10) «*Era possível que elas tenham vindo ao ginásio.»

O uso do mais-que-perfeito do conjuntivo na oração subordinada é possível, desde que o verbo da subordinante se encontre no pretérito perfeito ou no pretérito imperfeito do indicativo. A frase, no seu todo, expressa uma localização temporal anterior ao momento da enunciação e a situação da oração subordinada é descrita como sendo anterior ao da subordinante:

(11) «Foi pena que os teus irmãos não tivessem podido vir (ontem) à festa.»

(12) «Foi pena que a Joana não tivesse podido vir a nossa casa (ontem).»

(13) «Esperava que o teu irmão tivesse trazido a Joaninha.»

(14) «Ele queria que tu tivesses ido ao escritório dele (ontem à tarde).»

(15) «Era possível que elas tivessem vindo ao ginásio.»

Outra realidade presente nas frases apresentadas é a das que incluem uma oração subordinada adverbial. Neste contexto, surgem casos de orações subordinadas adverbiais concessivas, que passaremos a analisar. As frases selecionadas pela consulente são concessivas contrafactuais, i.e., apresentam um valor não real ou irrealizável. Neste contexto, tradicionalmente, as orações subordinadas que recorrem ao pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo combinam-se com o mais-que-perfeito composto do indicativo ou o condicional composto na oração subordinante. É o que acontece em

(16) «Mesmo que eles o tivessem visto, nunca teriam podido falar com ele.»

É possível, todavia, exprimir este valor com recurso ao imperfeito do conjuntivo combinado com o condicional na subordinante:

(17) «Mesmo que eles o vissem, nunca teriam podido falar com ele.»

A frase (18) não é possível porque o recurso ao pretérito perfeito do conjuntivo na subordinada aponta para um valor factual da concessiva que não é compatível com o uso do condicional composto na subordinante:

(18) «*Mesmo que eles o tenham visto, nunca teriam podido falar com ele.»

A consulente apresenta também um conjunto de frases que incluem a estrutura «por mais que», que se pode considerar entre as introdutoras de orações concessivas. Neste caso particular, são apresentados dois tipos de concessivas: as factuais, como em (19) ou (29) , que apresentam o imperfeito ou o pretérito perfeito do conjuntivo na subordinada e o pretérito perfeito na subordinante:

(19) «Por maiores que fossem os problemas, ele não desistiu.»

(20) «Por maiores que tenham sido os problemas, ele não desistiu.

Já a frase que apresenta o mais-que-perfeito do conjuntivo é incorreta, porque o recurso ao mais-que-perfeito do conjuntivo na subordinada aponta para um valor contrafactual que exigiria o uso do mais-que-perfeito composto do indicativo ou o condicional na subordinante:

(21) «*Por maiores que tivessem sido os problemas, ele não desistiu.»

As frases introduzidas por oxalá constituem frases optativas, que têm tipicamente o verbo no conjuntivo. A diferença nos tempos verbais está relacionada com um desejo hipotético, em (22), ou um desejo contrafactual, em (23):

(22) «Oxalá o Pedro tenha chegado antes da Paula, ontem à noite.»

(23) «Oxalá o Pedro tivesse chegado antes da Paula, ontem à noite.»

Finalmente, as frases introduzidas pelo advérbio talvez associam-se ao uso do conjuntivo para expressar um valor de probabilidade real, em (24), ou hipotética, em (25) e (26): 

(24) Talvez ele não tenha podido ir à reunião.

(25) Talvez ele não pudesse ir à reunião.

(26) Talvez ele não tivesse podido ir à reunião.

 

Em nome do Ciberdúvidas, agradeço as palavras gentis que nos endereça.

Disponha sempre!

 

? marca a aceitabilidade duvidosa da frase.

* assinala a agramaticalidade da frase.

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