DÚVIDAS

Pretérito perfeito composto do conjuntivo em orações

Na resposta de J.N.H. a Jara Rios de 21/10/99, J.N.H. nos deu exemplos do pretérito perfeito e do pretérito imperfeito do conjuntivo em orações subordinadas substantivas. Entendo que não há pretérito perfeito simples para o conjuntivo em português e portanto o pretérito perfeito composto tem o valor "perfectivo" que corresponde ao pretérito perfeito simples no indicativo. A minha dúvida é sobre as seguintes orações em pares com contraste pretérito imperfeito x pretérito perfeito composto. Será que todas são aceitáveis? Se não, qual é o erro nelas?

  1. a. Maria não dizia que os amigos comessem na casa dela.
    b. Maria não dizia que os amigos tenham comido na casa dela.
  2. a. Eu não achei que José bebesse todo o vinho da garrafa.
    b. Eu não achei que José tenha bebido todo o vinho da garrafa.
  3. a. Ciones lastimava que tivesse fome no mundo.
    b. Ciones lastimava que tenha tido fome no mundo.
  4. a. Nós tínhamos ficado tristes que eles roubassem o banco.
    b. Nós tínhamos ficado tristes que eles tenham roubado o banco.
  5. a. Ele gostaria que jogássemos carta com os rapazes.
    b. Ele gostaria que tenhamos jogado carta com os rapazes.
  6. a. Ele teria gostado que jogássemos carta com os rapazes.
    b. Ele teria gostado que tenhamos jogado carta com os rapazes.

Resposta

Sim, o modo conjuntivo não tem pretérito perfeito simples, mas sim composto, que tem, de facto, valor perfectivo, quer se refira ao passado quer ao futuro.

  1. Não me parece que a Maria já tenha chegado a casa. (Passado em relação ao presente).
  2. Talvez que a Maria já tenha chegado a casa, quando o marido regressar. (Passado em relação a uma acção futura).

Quanto às frases apresentadas, seria conveniente que estivessem inseridas num contexto para se ver e compreender melhor a situação. É possível, pois, que o nosso consulente não esteja inteiramente de acordo com uma ou outra das respostas que seguem. Mas não tem importância, porque o Ciberdúvidas continua à disposição. O que é conveniente é inserir a frase num contexto, ou então explicar a situação.

Vejamos as frases:

  1. a. – Correcta.
    b. – Incorrecta. Diga-se, conforme a situação:
    1. A Maria não dizia que os amigos tivessem comido na casa dela. (Melhor: em sua casa).
    2. A Maria não diz que os amigos tenham comido na casa dela. (Melhor: na/em sua casa).
    Nota. – Deve-se anteceder o nome próprio (Maria), quando se tratar duma pessoa bem definida, bem determinada.
  2. a. – Correcta.
    b – Incorrecta. Diga-se correctamente, conforme a situação:
    a. Eu não achei que o José tivesse bebido todo o vinho da garrafa.
    b. Eu não acho que o José tenha bebido todo o vinho da garrafa.
    Nas frases 3a e 3b, não é correcto empregar o verbo ter. Empregue-se o verbo haver.
  3. a. – Correcta, mas com verbo haver:
    Ciones lastimava que houvesse fome no mundo.
  4. b. – Incorrecta. Diga-se:
    Ciones lastima que tenha havido fome no mundo.
  5. a e 4b. – A segunda oração é causal; por isso não pode ser introduzida por que, mas sim por porque, visto que, etc. Digamos correctamente:
    [Nós] ficámos tristes, porque eles tinham roubado o banco.
  6. a. e 5b. – O verbo gostar pede a preposição de: Eu gosto de pão/de cerveja, etc.
    Não digamos jogar carta, mas jogar as cartas. Frase correcta:
    Ele gostaria de que jogássemos as cartas com os rapazes.
    Nota. – Na linguagem corrente, menos cuidada, não raro se omite a preposição de: Ele gostaria que...
  7. a. – Digamos correctamente:
    Ele teria gostado de que jogássemos as cartas com os rapazes.
    b. – Incorrecta.
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