De acordo com o Dicionário Terminológico (Ministério da Educação de Portugal), o constituinte «com os amigos» desempenha a função de complemento oblíquo na frase «Ele falou com os amigos».
No Vocabulário de Regime Proposicional de Verbos (Lisboa, Didáctica Editora, 1999), de Cármen Nunes e Leonor Sardinha, verifica-se que o verbo falar é regido pelas seguintes preposições:
a — A Maria falou [aos amigos]/-lhes.
com — A Maria falou com [o porteiro]/ele.
de — A Maria falou-me de ti.
em — A Maria falou-me em ti.
Pode ainda o verbo falar reger preposições como sobre, para e por:
a) Falou sobre as suas férias.
b) Falou para os amigos.
c) Falou pelo irmão.
Se consultarmos o Dicionário Terminológico (DT; Ministério da Educação de Portugal), verificamos que os complementos de verbos introduzidos por diferentes preposições são denominados de complementos oblíquos. Estes complementos são seleccionados pelo verbo e podem assumir a forma de grupo preposicional, e neste caso não são substituíveis pelo pronome pessoal na forma dativa lhe/ lhes (exemplos do DT):
(ii) O João gosta [de bolos].
*O João gosta-lhes.
O pronome dativo lhe substitui muitas vezes um complemento indirecto introduzido pela preposição a, conforme o exemplo, em que o verbo falar significa «cumprimentar», tendo regência com a preposição a:
Eu falei à Ana.
Eu falei-lhe.
No entanto, quando falar tem regência construída com a preposição com, assumindo as acepções de «dirigir-se a (alguém»), «dialogar», «conversar», acontece que o complemento oblíquo pode ser substituído pelo pronome lhe:
Eu falei com o João.
Eu falei com ele.
Eu falei-lhe.
Trata-se de uma possibilidade que Evanildo Bechara descreve na Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora, Lucerna, 2002, pág. 181) — pronomes pessoais átonos podem substituir aquilo a que o gramático chama adjuntos adverbiais,1 por exemplo, em casos como o de ralhar:
[...] Ralhar com ele — Ralhou-lhe
Outros verbos que admitem lhe em substituição dos seus complementos oblíquos são bater e fugir: «bater nele»/«bater-lhe»; ««fugir dele»/«fugir-lhe».
1 Na mesma obra (idem, pág. 419/421), E. Bechara refere-se a estes constituintes preposicionados como complementos relativos, embora assinale que «[...] muitos [estudiosos] preferem considerar tais termos como adjuntos circunstanciais ou adverbiais» (idem, pág. 421).