DÚVIDAS

A função sintática de «de sombras»
na frase «Cobrir-lhe a memória de sombras»

Gostaria que me elucidassem sobre a função sintática do constituinte «de sombras» na expressão «lançado sobre o túmulo a cobrir-lhe a memória de sombras». Estou em dúvida entre complemento oblíquo e complemento do nome.

Muito agradecida pela atenção.

Resposta

O constituinte «de sombras» tem a função de complemento oblíquo.

Este constituinte não desempenha a função de complemento do nome memória porque a sua relação sintática é estabelecida com o verbo e não com este último nome, como se pode observar pela possibilidade de pronominalização do nome:

(1) «Cobrir-lha de sombras.»

Esta operação sintática mostra que «de sombras» não integra o constituinte com a função de complemento direto, tendo, portanto, outra função.

O verbo cobrir tem várias possibilidades sintáticas, que se apresentam de seguida:

(i) pode funcionar como verbo transitivo direto (pedindo um complemento direto):

                (1) «O gelo cobriu a casa.»

(ii) pode funcionar como verbo transitivo direto e indireto (pedindo dois complementos, um direto e outro indireto):

                (2) «Cobriu as mãos ao pai.»

(iii) pode funcionar como transitivo direto e indireto (pedindo dois complementos, um direto e outro oblíquo):

                (3) «Cobriu o chão de flores.»

(iv) pode funcionar como transitivo direto e indireto (pedindo três complementos, um direto, outro indireto e outro oblíquo):

                (4) «Cobriu as mãos de beijos ao pai = cobriu-lhe as mãos de beijos.»

O caso apresentado pela consulente integra-se nesta última possibilidade, pelo que o constituinte «de sombras» é pedido pelo verbo e desempenha a função sintática de complemento oblíquo.

Disponha sempre!

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa