Tal como se afirma na primeira proposta de análise, o constituinte «de carro» tem a função de modificador do grupo verbal e «pela América do Norte» a função de complemento oblíquo.
O verbo viajar é um verbo de movimento que pede um argumento com a função semântica de «lugar para onde» ou de «lugar por onde». Também por essa razão, o verbo viajar pode reger, de acordo com Celso Luft (Dicionário Prático de Regência Verbal. Editora Atica, 2008), as seguintes preposições:
(i) para
(1) «Ele viajou para Paris.»
(ii) de…para1
(2) «Ele viajou de França para a Alemanha.»
(iii) por
(3) «Ele viajou por França.»
No entanto, o Dicionário Sintático de Verbos Portugueses (Almedina, 1995), de Winfried Busse, apresenta como possível também a regência da preposição de, dando como exemplos:
(4) «Viajar de carro/de comboio/de barco.»
(5) «O serviço está cada vez pior, já não dá gozo viajar de avião.»
Assim sendo, na frase em análise, qualquer dos constituintes («de carro», «pela América do Norte») poderia desempenha a função de complemento oblíquo.
Por outro lado, se recorrermos ao teste da estrutura pseudoclivada, o qual permite focalizar apenas o verbo e o seu complemento, afastando-os do modificador, observamos o seguinte:
(6) «O que o meu filho fez de carro foi viajar pela América do Norte.»
(7) «?O que o meu filho fez pela América do Norte foi viajar de carro.»
O contraste entre (6) e (7) parece mostrar que o verbo mantém com o constituinte «pela América do Norte» uma relação mais estreita, o que gera uma frase estranha quando se afasta este constituinte do verbo (cf. frase (7)).
Os elementos atrás apresentados parecem apontar para o facto de que «pela América do Norte» tem a função de complemento oblíquo, enquanto «de carro» será modificador do grupo verbal.
Não obstante, uma vez que o verbo pode reger a preposição de, poderão ser convocados argumentos para uma interpretação contrária.
Disponha sempre!
?Indica a estranheza da frase.
1. Este será um caso em que o verbo viajar tem dois complementos oblíquos.