Acessor, em vez de assessor, privilégio trocado por previlégio; a confusão entre bimensal e bimestral, de consultor e consultadoria, de discrição e descrição, de enviarmos e envivar-mos; de de mais com demais, de se não com senão, e de traz com trás; as formas verbais erróneas fostes e houveram. Ou o caso de ciclo vicioso, em vez de círculo vicioso ¹. Ou, ainda, acerca de, a cerca de e há cerca de – três expressões que se pronunciam de forma muito semelhante mas que, tendo grafia e significado diferentes, levam a recorrentes confusões ². Estes são alguns dos 101 erros apontados neste livro da autoria da jornalista e especialista em escrita no meio digital, Elsa Fernandes, sob a chancela da Verso da Kapa (2017).
Trata-se de um conjunto de incorreções ligadas à grafia dos números³, das siglas e dos acrónimos⁴, sobre o emprego dos estrangeirismos⁵ e das expressões latinas⁶, quanto à acentuação⁷, aos pleonasmos⁸, à conjugação verbal ⁹ ou à pontuação¹º – entre outros tópicos ilustrativos de deficiente domínio do idioma nacional.
Com uma seleção de «erros e de dúvidas mais comuns em meio profissional», o livro – escreve a autora na sua Introdução – «nasceu na internet», dirigido, sobretudo, a quem escreve profissionalmente (copywriters, jornalistas, gestores de redes sociais) e pensado para dar resposta «às pequenas questões linguísticas que nos surgem no dia a dia.»
A maneira como escrevemos – acentua – reflete-se de forma importante na credibilidade que temos ou não. «Hoje em dia escrevemos mais do que nunca. O email é uma ferramenta de trabalho fundamental, enviamos mensagens por telemóvel todos os dias, publicamos e comentamos as publicações de amigos e desconhecidos nas redes sociais. Para tudo isto usamos palavras e a forma como as escrevemos tem um impacto fundamental na nossa credibilidade.»
101 Erros de Português que Acabam com a Sua Credibilidade é um útil contributo para o bom uso da língua portuguesa, devidamente suportado por uma bibliografia de várias obras de referência, de indispensável consulta regular.
¹ Muitas expressões são, à força do hábito, usadas como certas, mas na realidade estão erradas. É o caso de ciclo vicioso: «Um ciclo designa uma série de fenómenos que se sucedem e repetem de forma ordenada ,mas não necessariamente circular. [Portanto,] círculo vicioso [que] designa uma sucessão de acontecimentos que se repetem e voltam sempre ao ponto inicial. É a expressão certa quando queremos referir-nos a algo que se encontra numa situação de impasse ou que não termina.»
² Acerca de é uma locução preposicional e usa-se para indicar «aquilo de que se fala” ou “aquilo de que se trata.»
A cerca de significa «aproximadamente», «perto de», «próximo de», «junto de» e refere-se, na maioria das vezes, a questões de distância.
Há cerca de tem o sentido de tempo decorrido, significando «desde aproximadamente», ou «de quantidade aproximada.» (pág. 20)
³ É frequente, sobretudo entre os jornalistas que tantas vezes precisam de traduzir números do inglês para o português, é equiparar 1 bilion a 1 bilião. Não é correto. Em Portugal (onde se utiliza a escala longa para a nomenclatura de números grandes) bilião corresponde a um milhão de milhões (1 000 000 000 000), enquanto nos Estados Unidos, em, Inglaterra e no Brasil, um bilião equivale a mil milhões, nota a autora que chama ainda a atenção para outros erros relacionados com a grafia dos números, nomeadamente com a abreviatura dos numerais ordinais, usada para tornar mais clara a informação que se pretende transmitir. A recomendação é para colocar o ponto a seguir ao número. Por exemplo, 1.º, 3.º, 101.º. O facto de se tratar de uma abreviatura, recorda-ae no livro, «exige um ponto para indicar que houve um corte entre o início e a terminação do numeral ordina.l» (pág.27)
⁴ A diferença entre acrónimo e sigla, o uso ou não das maiúsculas e a sua não plurarização. (págs.121-122)
⁵ Exemplos de estrangeirismos e quantoa o seu uso nas págs. 62-63.
Entre o 101 erros do livro de Elsa Fernandes, conta-se a vulgar falta de vírgula entre a interjeição e o vocativo, tão banal nos SMS e nas redes sociais. «São cada vez menos as pessoas que usam a vírgula para separar a interjeição do vocativo em emails ou em redes sociais, nota Elsa Fernandes, exemplificando com as expressões: “Olá Joana” ou “Bom dia Joana”. “Em ambos os casos, para escrevermos corretamente devemos colocar uma vírgula entre a interjeição “olá” e o vocativo “Joana”.
⁶ Exemplo de expressões latinas e como eas devem ser grafadas – «com um sinal indicativo de que se trata de um expressão noutro idioma, podendo ser escritas em itálicos, entre aspas sublinhadas ou em negrito – na pág. 66.
⁷ Casos de errónea acentução nas págs,. 47 e 75
⁸ «Conclusão final», «Na minha opinião», «Surpresa inesperada» e «24 horas por dia» são alguns dos mais conhecidos pleonasmos escalpelizados na pág. 95.
⁹ Os recorrentes tropeções nos verbos haver, intervir e tratar exemplificados nas págs.56, 59, 61, 64 e 95, por exemplo.
¹º Sobre a pontuação, entre os exemplos deste 101 erros, aponta-se a vulgar falta de vírgula entre a interjeição e o vocativo, tão banal nos SMS e nas redes sociais. «São cada vez menos as pessoas que usam a vírgula para separar a interjeição do vocativo em emails ou em redes sociais, nota Elsa Fernandes, exemplificando com as expressões: “Olá Joana” ou “Bom dia Joana”. “Em ambos os casos, para escrevermos corretamente devemos colocar uma vírgula entre a interjeição “olá” e o vocativo “Joana”». (pág. 104)
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