Sobre a resposta dada a Rui Ramos, esta nossa prezada consulente agradece uma «resposta que teorize e sistematize melhor o assunto.»
Parece-nos que a resposta está bem teorizada, porque apresenta a teoria do ponto de vista gramatical e semântico. Quais os outros pontos de vista? O estilístico? O da evolução de senão e se não a partir do português arcaico até aos nossos dias? O da linguagem popular no que respeita ao emprego das palavras em questão? Do ponto de vista dos erros que se cometem quanto ao emprego de tais vocábulos? Mas isto daria para um livro! Seria um trabalho inteiramente fora do Ciberdúvidas» Reparemos no segundo elemento da palavra Ciberdúvidas. É o elemento dúvidas. Quer isto dizer que esta página da Internet tem apenas por fim tirar as dúvidas apresentadas e/ou esclarecer tal ou tal ponto.
Quanto à sistematização, ela está bem visível. Basta repararmos nas alíneas principais, que se vão subdividindo e se esclarecem por meio de frases. Que é isto, senão um sistema? Então o assunto está sistematizado.
Afirma que a resposta não a satisfaz. Falta dizer-nos em que ponto, para que eu possa esclarecer.
No entanto, não deixa de ter alguma razão: falta mencionar um «se não», em que o se é palavra apassivante.
Vamos, pois, repetir a resposta dada ao consulente anterior, o Sr. Rui Ramos, acrescentando o tal «se não» e modificando aqui e acolá, como uma gralha em B, 7). De facto, às vezes apresenta-se duvidosa a escolha entre se não e senão. Então vejamos:
A) Se não. - Conjunção condicional se e o advérbio negativo não:
(a) Vou passear, se não chover (= caso não chova).
(b) Isso parece solução difícil, se não impossível (= quando não/se não for impossível).
(c) Antigamente, tal solução seria boa, se não óptima (= se não fosse óptima).
Como vemos nas frases (b) e (c), há casos em que podemos subentender o verbo ser.
B) Se não. - Advérbio interrogativo se e advérbio negativo não.
d) Perguntei-lhe se não concordava comigo.
(d) Eu queria saber se não vais ao Algarve.
Nas frases (d) e (e), à palavra se, há no Brasil quem lhe chame conjunção integrante. Parece-me preferível a nossa denominação.
C) Se não. - Palavra (também chamada «partícula») apassivante ou apassivadora. Escreveu assim o Padre António Vieira no volume XI, p. 523:
(e) «Neste estado de tanto aperto, em que se não ouviam mais que clamores ao céu, chegou Moisés ao Egipto.»
Aqui, se não ouviam = não se ouviam = não eram ouvidos.
A) Senão. - Conjunção, quando significa: do que, mais do que, a não ser; mas, mas sim, mas também; caso contrário, de contrário:
(a) Não fazes mais senão trabalhar (= do que).
(b) A Maria não é senão uma linda flor (= mais do que).
(c) Isso não vem em nenhum livro, senão neste (= a não ser).
(d) Não falei nisso para te ofender, senão para te rires (= mas/mas sim).
(e) O teu pai era não só inteligente, senão trabalhador (= mas também).
(f) Fecha a janela, senão entra o frio (= caso contrário, de contrário).
B) Senão. - Substantivo, significando defeito, erro:
(g) O Manuel tem um senão muito condenável: é egoísta.
(h) Não faças isso, porque é um senão muito grande.
Depois desta doutrina, examinemos as frases do nosso consulente Rui Ramos:
(a) Vem cá, se não não comes.
(b) Vem cá, senão não comes.
Ambas são correctas. Na frase (a), subentende-se o verbo vir: «(...) se não [vieres], não comes.» É o caso das frases de I, A, (b) e (c).
Na frase (b), senão significa caso contrário, de contrário: «(...) caso contrário, de contrário não comes.»
Senão.-— Em locuções: senão quando e senão que:
(a) Estava dormindo descansadamente. Senão quando, ouve um ruído que o fez estremecer de medo, e levantou-se rapidamente.
(b) Recebeu a homenagem não contrafeito, senão que muito à vontade.
Se alguma dúvida permanecer, e se a Sr.ª D.ª Maria Teresa A. Nunes pedir esclarecimento, o que muito agradeço, peço o favor de dizer em que ponto/passo/frase/situação, a fim de que possa responder com justeza, se tal estiver dentro das minhas possibilidades.