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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

A história da lingüística, como o próprio autor britânico enfatiza no Prefácio, “é agora amplamente reconhecida como matéria digna de ensino e pesquisa”. Pode-se mesmo dizer que uma das principais preocupações atuais dos lingüistas é avaliar o que tem sido feito no domínio do estudo da linguagem. Comprovam tal preocupação os muitos compêndios de história da lingüística publicados nestes últimos anos em vários países, quase sempre traduzidos para outras línguas, tal o interesse que despertam. No Brasil, alguns de nossos Cursos de Letras já incorporaram aos seus currículos, de graduação e pós-graduação, um e até mais de um semestre letivo sobre a história dos estudos lingüísticos.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Recomendamos neste dia a leitura de Preconceito linguístico – o que é, como se faz. (15 ed.) Loyola: São Paulo. O interesse está em que o autor recusa a noção simplista que separa o uso da língua em "certo" e "errado", dedicando-se a uma pesquisa mais profunda e refletida sobre os fenómenos do português falado e escrito no Brasil.

É de ler também a recensão-comentário Gramática normativa: uma ditadura linguística!

Por João Carreira Bom

Bérnard Pottier frisou algures que o diálogo não serve apenas para unir, mas também para agredir e mentir (que, aliás, é a forma mais indigna de agressão). Há ainda outra outra faceta dos maus efeitos do ato verbal: o discurso como ruído. Papaguear, encher chouriços, meter palha é verdadeiramente o anti-discurso, a negação da comunicação e do esclarecimento.

Há várias maneiras de pôr o rei nu:

• uma delas é interpelarmos o palestrante: «Importa-se de ir direito à questão?»;

• outra é parodiar um exemplar de discurso-fátuo, como faz Sérgio Godinho em "Caso Fatal";

• outra ainda é ainda explorar-lhe as características, como se faz no quadro abaixo.

Em jeito de texto instrucional, dir-se-á, então, que a verborrágica criatura pode combinar qualquer célula de qualquer coluna do quadro abaixo que obterá sempre o pretendido: ouvir-se falar.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Toda a gente sabe que umas línguas influenciam outras e que a direção dessa influência é ditada pelo poder cultural e económico do país onde a língua influente é falada como língua oficial. Quando essa influência não é acompanhada do saber e da reflexão sobre as línguas, aparecem os erros gerados pelos faux amis, false cognates, false friends, enfim, pelos falsos amigos (ou amigos falsos, para ser uma tradução mais genuinamente portuguesa). Na verdade, actually não significa atualmente, eventually não significa eventualmente, sensible não significa sensível, push não significa puxe (como vemos nas portas dos estabelecimentos comerciais em Portugal) — e por aí fora.

Mas vai daí que o verbo to realize evoluiu de falso amigo para amigo íntimo. O que aconteceu no exemplo dado por Paulo J. S. Barata foi mais do que uma associação de significados causada pela similitude da forma das palavras. Na verdade, to realize conseguiu aduzir mais um significado — dicionarizado — ao nosso verbo português realizar. É um exemplo acabado de anglicismo semântico:

«Realizar: (...) 6. Tomar consciência de determinado facto. COMPREENDER. Ao fim de alguns minutos realizou que ele a estava a tentar avisar», Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Verbo;

«Realizar: (...) 7. perceber, compreender», Grande Dicionário Língua Portuguesa, Porto Editora;

«Realizar: (...) 3. Conceber de uma maneira nítida, como real; dar-se conta. Priberam.

C'est la vie! É a língua!