Toda a gente sabe que umas línguas influenciam outras e que a direção dessa influência é ditada pelo poder cultural e económico do país onde a língua influente é falada como língua oficial. Quando essa influência não é acompanhada do saber e da reflexão sobre as línguas, aparecem os erros gerados pelos faux amis, false cognates, false friends, enfim, pelos falsos amigos (ou amigos falsos, para ser uma tradução mais genuinamente portuguesa). Na verdade, actually não significa atualmente, eventually não significa eventualmente, sensible não significa sensível, push não significa puxe (como vemos nas portas dos estabelecimentos comerciais em Portugal) — e por aí fora.
Mas vai daí que o verbo to realize evoluiu de falso amigo para amigo íntimo. O que aconteceu no exemplo dado por Paulo J. S. Barata foi mais do que uma associação de significados causada pela similitude da forma das palavras. Na verdade, to realize conseguiu aduzir mais um significado — dicionarizado — ao nosso verbo português realizar. É um exemplo acabado de anglicismo semântico:
«Realizar: (...) 6. Tomar consciência de determinado facto. COMPREENDER. Ao fim de alguns minutos realizou que ele a estava a tentar avisar», Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Verbo;
«Realizar: (...) 7. perceber, compreender», Grande Dicionário Língua Portuguesa, Porto Editora;
«Realizar: (...) 3. Conceber de uma maneira nítida, como real; dar-se conta. Priberam.
C'est la vie! É a língua!