1. Pode dizer-se que os destaques mediáticos do momento, em Portugal, são a continuação (rocambolesca) das audições da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) a respeito da gestão da companhia aérea TAP, e, no plano internacional, a guerra na Ucrânia. Mas as notícias são múltiplas, heterogénas e nas línguas mais diversas, e daí assinalar-se o lançamento de uma plataforma, a Monitio, uma iniciativa internacional que permite monitorizar e até traduzir o muito que se publica nos media (ver Notícias). A disponibilização de conteúdos de informação convoca também questões sobre a imparcialidade e a isenção dos serviços públicos da área, como é o caso da Rádio e Televisão de Portugal, cujo contrato de concessão vai ser renovado e é objeto de estudo no Livro Branco do Serviço Público de Média, publicado em maio de 2023. No meio de todas estas preocupações, uma pergunta muito prosaica: como se deve escrever, afinal, media? Assim mesmo, em itálico? Ou também se pode grafar média, como se faz no referido Livro Branco? E que dizer de mídia, nome usado no singular («a mídia») e forma consagradamente brasileira? No Pelourinho, o jornalista José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, anota a «saltitante» variação deste termo por quem o escreve e lê nos meios de comunicação portugueses.
2. O superlativo absoluto sintético* forma-se geralmente com o sufixo -íssimo, e, portanto, lindo dá lindíssimo. Contudo, no caso de difícil, a forma mais corrente é dificílimo, que foi transmitida ao português pelo latim, por via erudita. Mesmo assim, até que ponto se aceita a forma regular, "dificilíssimo"? A questão faz parte do total de nove que constituem a atualização do Consultório e englobam ainda os seguintes tópicos: as palavras "esmolecer" e "afeiurado"; o uso de «o que que...» em lugar de «o que é que...»; o valor do advérbio relativo onde; o pronome pessoal medieval elo; as orações subordinadas condicionais e as vírgulas; a grafia de coleóptilo; o significado de tanto associado a verbos; e as expressões «nós dois» e «nós os dois».
* Recorde-se uma outra construção, a do superlativo absoluto analítico, geralmente formado pelo advérbio muito e pelo grau normal de adjetivos e advérbios: muito lindo, muito longe.
3. Sobre a ocupação ilegal de casas, é recorrente o nome okupa, grafado com k. Não será melhor escrever ocupa? Em O Nosso Idioma, a consultora Sara Mourato dedica um apontamento a este fenómeno social e revela a motivação espanhola do termo. Na mesma rubrica, outra consultora, Inês Gama, retoma um tema cuja abordagem requer sempre esclarecimento: a diferença entre língua materna e língua não materna.
4. Em Portugal, em tempos idos, os morangos só apareciam sazonalmente e não eram fruta abundante em certas regiões, sobretudo nas do Sul. Em Diversidades, partilha-se um artigo do especialista em naturalogia Miguel Boieiro sobre a planta que dá os morangos, o morangueiro, de seu nome botânico Fragaria vesca.
5. Em 17 de maio, foi aqui assinalado o Dia das Letras Galegas. Na mesma data, também se festejou o Dia Internacional contra a Homofobia, a Bifobia e a Transfobia, o qual foi ocasião para várias manifestações culturais e políticas. Sobre o impacto da discussão em torno da identidade de género e da orientação sexual sobre os usos linguísticos, sugere-se a consulta dos seguintes textos em arquivo no Ciberdúvidas: "Linguagem neutra, estilo, morfologia", "A gramática e o género", "Mais categorias não nos excluem, aumentam-nos", "Anjos, arcanjos, querubins e serafins", "Ainda sobre o debate em torno da linguagem inclusiva" e "Um gay, uma lésbica, a linguagem e algum preconceito".
Cf. Bromance
6. A hegemonia e a pressão da língua inglesa causam preocupação e são motivo de contestação. No entanto, é sempre proveitoso saber mais sobre a história e as perspetivas deste idioma tão presente nos dias de hoje. Cabe registar, portanto, a conferência "O uso do inglês no século XXI", proferida por Lane Greene, colunista de temas linguísticos no jornal The Economist, em 18/05/2023, na Faculdade das Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa. A sessão foi organizada pelo professor universitário Marco Neves, docente da FCSH, que a promoveu através de um interessante vídeo de introdução ao tema do papel do inglês no mundo contemporâneo – apontamento disponível aqui.
7. Entre os programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:
– No Língua de Todos, difundido na RDP África, que, na sexta-feira, 19/05/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 09h00*), aborda-se o impacto do ChatGPT na língua portuguesa, com uma conversa com o presidente executivo da Inductiva Research Labs, Luís Sarmento
– No Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, 21/05/2023, às 12h30* (com repetição no sábado seguinte, dia 27/05/2023, às 15h30*), o tema em destaque são os preconceitos dialetais, apontados investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, Clara Keating,
– Finalmente, em Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido igualmente na Antena 2 (de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*), o convidado é o administrador do Banco Santander João Pedro Tavares, para falar da linguagem usada nas empresas e no trabalho.
* Hora oficial de Portugal continental.