DÚVIDAS

Comparativo: «mais bem do que mal»

É correto dizer «Falaste mais bem dele do que mal» ou dever-se-ia dizer: «Falaste melhor...»?

Efetivamente, o senso comum diz-nos que, quando o verbo não está no particípio passado, se deve dizer melhor. No entanto, no entender de alguns puristas como Sá Nogueira, melhor é comparativo de «mais bom» e nunca de «mais bem», como julgo que afirmam numa das vossas respostas.

Mesmo assim, esta posição será válida?

Tendo fundamento, devemos ser nós mais puristas ou laxistas?

Malgrado a insistência neste tópico que se faz presente nas respostas inúmeras dadas aqui na página, gostaria que me elucidassem (e, se o assunto for polémico e não se importarem, debatessem) as minhas dúvidas.

Um bem-haja a todos os consultores!

Resposta

A frase «Falaste mais bem dele do que mal» será a mais aceitável. 

Recorde-se que melhor é comparativo de superioridade do adjetivo bom, não se usando a forma «mais bom», exceto quando se comparam «duas qualidades ou ações»1:

(1) «Ele é mais bom do que inteligente.»1

A forma melhor é também comparativo do advérbio bem.

Defende a posição mais normativa que junto a um particípio/adjetivo participal se deve usar «mais bem» e não melhor:

(2) «Ele está mais bem preparado do que eu.»

No entanto, há autores que discordam e consideram que atualmente se podem usar as duas formas (é o caso de Bechara, que cita também Mário Barreto2).

Depois de um verbo, usa-se melhor e não «mais bem»:

(3) «Aqui ele estuda melhor.»

No caso colocado pelo consulente, surge o advérbio bem e, nesta construção, parece-nos que a forma «mais bem» será a mais frequente porque, como explica Carlos Rocha, citando Vasco Botelho de Amaral, «[n]ote-se que é de uso empregar mais mal quando se expressam qualidades no mesmo sujeito: "V. Ex.ª escreve mais mal que bem." Por outras palavras, quando os advérbios mal e bem são os próprios termos da comparação, emprega-se "mais mal do que bem". Sendo assim, parece ficar também legitimada uma frase em que ocorra «mais bem do que mal», por exemplo, como acontece neste diálogo: «– Ele escreve mais mal do que bem./ – Não concordo: ele escreve mais bem do que mal» (consultar resposta aqui).

Disponha sempre!

 

1. Bechara, Moderna Gramática Portuguesa. Ed. Lucerna, p. 218.

2. Idem, Ibidem, p. 219.

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