A antonomásia «consiste na substituição de um nome comum por um nome próprio ou, ao contrário, de um nome próprio por uma caracterização, universalmente reconhecida, da respectiva personalidade: «Ele sempre foi um D. João» ("D. João" por "conquistador" ou "mulherengo"); ou "o filósofo", na Idade Média (em vez de "Aristóteles").» (Falar Melhor, Escrever Melhor, p. 503)1. Assim, trata-se de uma figura por meio da qual se designa alguém ou alguma coisa pelo nome comum ou o da espécie a que pertence (ou vice-versa) – um nome próprio pode ser substituído por um nome comum (1) ou o inverso (2):
(1) «A Dama de Ferro retirou-se. (em vez de Margaret Thatcher)
(2) «O nosso pequeno Camões fez um poema.» (em lugar do nome do filho)
A antonomásia pode ser também considerada um tipo de metonímia (ou, mais concretamente, um subtipo de sinédoque, se considerarmos esta um caso especial de metonímia). Noutras situações, será uma variante da perífrase, quando se forma com uma expressão analítica, ou seja, mais longa e descritiva.
A perífrase consiste na «substituição de um termo próprio e único por uma série de palavras, uma locução, que o define ou parafraseia; operação metalinguística, que consiste em desenvolver um conteúdo de um texto noutro (evidentemente com muito mais palavras): «Pelo neto gentil do velho Atlante» [em lugar de Mercúrio] (Os Lusíadas, I, 20)» (Ibidem, p. 499). Assim, este recurso expressivo consiste na substituição de uma expressão curta por uma mais longa, que acentua determinada característica da realidade designada:
(3) «Visitem a cidade da luz!» (por Paris)
(4) «O que me dá força é isto que me faz levantar todos os dias e ir à luta.» (por «o meu trabalho»)
A perífrase distingue-se da metonímia, na medida em que esta procura uma expressão mais breve e condensada, enquanto a perífrase é mais analítica e, logo, mais longa. Não obstante, a perífrase poderá ser um tipo de sinédoque (e, logo, um tipo de metonímia).
Por fim, a metonímia é um recurso expressivo que consiste em substituir uma palavra por outra que dá a entender o significado da primeira, mantendo com esta uma relação de contiguidade semântica. Como se afirma no E-Dicionário de termos literários, numa «definição ampla, a metonímia seria o nome comum a todos os tropos»2. Assim, a metonímia, em sentido lato, pode expressar relações de contiguidade de vária ordem: relação entre a parte e o todo3, entre a matéria e o objeto, entre a causa e o efeito, entre o continente e o conteúdo, entre o lugar de origem e o produto, entre o possuidor e a coisa possuída, entre outras.
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1. «Um D. João», conforme a fonte citada. Sobre o uso de D. Juan e D. João, ver "D. Juan e dom-joão".
2. Um tropo é uma «figura de significação que consiste na transferência ou desvio de sentido de uma palavra para uma outra a que é dado um sentido diferente do seu sentido literal.» (Nascimento e Lopes, Domínios – Gramática de Língua Portuguesa. Plátano, p. 329).
3. Daí a relação estreita entre a metonímia e a sinédoque.
Fontes:
Carlos Ceia (coord.), E-Dicionário de Termos Literários.
Nascimento e Lopes, Domínios – Gramática de Língua Portuguesa. Plátano, 2011.
Pinto Correia, "A expressividade na fala e na escrita" in Falar Melhor, Escrever Melhor. Seleções do Reader's Digest, 1991, pp. 433-505.
Prado Coelho (dir.), Dicionário de Literatura. Figueirinhas, 1987.