Não há clareza nem unanimidade a respeito da definição de tropo. Dá-se aqui a perspectiva de João David Pinto Correia em Falar Melhor, Escrever Melhor (Lisboa, Selecções do Reader´s Digest, págs. 495-505). Sintetizando propostas que já têm séculos e apropriações mais recentes, Pinto Correia classifica como figuras de expressividade o que tradicionalmente no ensino se designa "figuras de retórica" ou "figuras de estilo"; para ele, existem quatro grandes grupos:
1. Figuras de dicção;
2. Figuras de construção (ou de sintaxe)
3. Figuras de pensamento;
4. Figuras de alteração semântica (tropos).
As figuras de dicção não são relevantes para esta discussão e são equivalentes a processos fonológicos e fonéticos de supressão, adição e substituição de sons de uma língua. Restam os outros três tipos, havendo contraste entre as figuras de construção (ou de sintaxe), por um lado, e as de pensamento e os tropos, por outro. Por se tratar de dois tipos que resultam de processos semânticos, é discutível a separação entre figuras de pensamento e tropos.
Seja como for, Pinto Correia distingue figuras de pensamento de tropos, atribuindo-lhes subconjuntos:
I. Figuras de pensamento: efeitos de estratégia enfática (p. ex., aliteração, apóstrofe, hipálage,1 paráfrase, prosopopeia); efeitos de comparação (p. ex., comparação, paralelo, antítese, quiasmo); efeitos de intensificação/atenuação (hipérbole, litotes).
II. Tropos ou figuras que se baseiam em quatro figuras ou tropos fundamentais:
a) metáfora: alegoria, catacrese, hipálage e a própria metáfora;
b) metonímia: metalepse e a própria metonímia;
c) sinédoque: antonomásia e a própria sinédoque;
d) eufemismo/ironia: o próprio eufemismo, a antífrase, a própria ironia, o sarcasmo2.
Em suma, embora esta classificação não seja consensual entre os estudiosos da retórica, pode-se considerá-la adequada a uma primeira abordagem ao tema e concluir que os tropos são um subconjunto das figuras de retórica.
1 Pinto Correia também a inclui nos tropos, entre os subtipos da metáfora.
2 «Processo que consiste em levar às últimas consequências os meios linguístico-discursivos da ironia: o objectivo a tingir é ferir o destinatário-adversário» (Pinto Correia, op. cit., pág. 504).