Antes de mais, ambas as frases se caracterizam por terem na sua oração subordinante o verbo volitivo esperar que veicula o valor de desejo de alguém (referido como ela) relativamente a uma situação (a realização de um exame por Ciones). Este valor do verbo determina o uso de conjuntivo na oração subordinada. Verbos como esperar são, do ponto de vista temporal, prospetivos, ou seja, levam a que o desejo expresso na subordinada substantiva completiva se projete numa situação futura, num intervalo de tempo posterior ao do tempo da subordinante, que funciona como tempo de localização.
Se atentarmos na frase apresentada em (1)
(1) «Ela espera que a Ciones tenha feito o exame antes de os seus pais voltarem.»
concluímos que as orações «que a Ciones tenha feito o exame antes de os seus pais voltarem» expressam a situação futura desejada (a realização do exame por Ciones), que se espera venha a ocorrer num intervalo de tempo após o momento em que o desejo foi expresso. Note-se que esta situação futura é, contudo, balizada temporalmente pela oração subordinada adverbial temporal («antes de os seus pais voltarem»). Esta oração faz a localização temporal das situações, ordenando-as no tempo. Assim, em primeiro lugar, Ciones realiza o exame e, em segundo lugar, os pais voltam. Por esta razão, na oração se seleciona o pretérito perfeito como tempo que sinaliza passado relativamente a um tempo de referência. Esta ordenação das situações no eixo temporal expressa também parte do desejo expresso. Isto é, o sujeito da frase deseja que Ciones tenha o exame concluído num intervalo de tempo anterior à chegada dos pais.
A frase apresentada em (2) tem uma sintaxe complexa, associada a uma gestão mais densa da temporalidade, o que não facilita a sua interpretação por parte do interlocutor1:
(2) «Ela espera que a Ciones venha a ter feito o exame antes de os seus pais voltarem.»
No entanto, do ponto de vista semântico, os valores expressos por esta frase não são muito distintos dos expressos pela frase (1). Em (2), «venha (a)» é um verbo semiauxiliar2 que expressa um valor de futuridade, com o significado de “conclusão ou desfecho” (cf. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea). Por seu turno, o infinitivo pessoal composto «ter feito» representa temporalmente um evento dado como concluído e como tendo ocorrido antes de um tempo de referência. Assim, esta perífrase verbal (cf. noção de “perífrase verbal” aqui) expressa uma situação associada a um intervalo de tempo futuro (relativamente ao tempo da oração subordinante) e dada como concluída. Tal como acontece na frase (1), também a oração subordinada adverbial temporal baliza temporalmente a oração «A Ciones venha a ter feito», localizando-a num intervalo de tempo anterior ao da chegada dos pais.
Assim, sendo a diferença entre as frases (1) e (2) é mínima, tendo a frase (2) a especificidade de colocar a tónica na conclusão da ação.
Disponha sempre!
1. Note-se que no Corpus do Português de Mark Davies não encontrámos nenhuma ocorrência desta construção.
2. De acordo com Duarte, «os verbos semiauxiliares são verbos esvaziados de significado lexical, sem grelha argumental, que respondem afirmativamente a alguns, mas não a todos os critérios de auxiliaridade (os quais, recorde-se, são: impossibilidade de completiva finita, um só advérbio de tempo de cada tipo, uma só negação frásica (precedendo o auxiliar), atração obrigatória do clítico pelo verbo auxiliar)» (Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa. Caminho, p. 315).