Os valores expressos pela perífrase verbal «haver de + infinitivo» constroem-se sobretudo através da flexão do verbo auxiliar no presente ou no imperfeito do indicativo.
Assim, com haver flexionado no presente do indicativo, o complexo verbal «haver de + infinitivo» expressa um valor de futuridade e associa-se «a um tempo futuro indeterminado e tem uma forte componente modal, em que se expressa um desejo, uma intenção ou um compromisso»1:
(1) «Os bons tempos hão de voltar.»
(2) «Eu hei de acabar o trabalho a tempo.»
O auxiliar haver usa-se também no imperfeito do indicativo, construindo com o verbo principal uma perífrase que expressa um valor de ordem (atenuada), de um pedido ou de uma sugestão:
(3) «Havias de ir ao banco.»
(4) «Havias de começar a estudar.»
A opção pela flexão do auxiliar no futuro expressa também um valor de futuridade, sentido eventualmente como mais literário. Uma pesquisa no Corpus do Português, de Mark Davies, mostra que não se trata de uma construção frequente, mas é possível assinalar alguns exemplos na literatura:
(5) «Hoje, a mínima espórtula glandular, que os olhos haverão de pagar ao amor sincero [...]» (Fialho de Almeida, Os Gatos II)
(6) «Não a olha de frente, já que se teme das feições que prevê o haverão de acompanhar ao fecho da biografia [...]» (Mário Cláudio, Peregrinação de Barnabé das Índias)
Disponha sempre!
1. Cf. Oliveira in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 526.