Tratando-se de um título de 1900, está correto, pois, segundo o Novo Diccionario da Língua Portugueza, de Eduardo de Faria, 2.ª ed., de 1851, coexistiam as formas: «cosinha» e «cozinha». Como a ortografia do português não dispunha ainda, então, de um padrão normalizado – aconteceu apenas com a reforma de 1911 –, o que prevalecia era «escrever para o ouvido», com a decorrente flutuação na grafia das palavras, porque, apesar de se procurar registar o som da fala, a representação não obedecia a nenhuma norma. Para além disso, existia também uma ortografia de tradição etimológica e «pseudo-etimológica», isto é, a busca da origem não diretamente do latim, mas por intermédio do francês, que era então imitado.
O Formulário Ortográfico de 1911, que veio dotar a língua portuguesa de regras de escrita como nunca tivera, foi oficializado por portaria em setembro de 1911. Esta reforma da ortografia, a primeira oficial em Portugal, foi profunda e representou uma completa modificação no aspeto da língua escrita conhecida até então. A grafia do vocábulo «cozinha» e seus derivados com «z» ter-se-á fixado nesta altura, surgindo o registo da palavra «cozinheira», apenas com «z», no Novo Diccionario da Língua Portuguesa, de Candido de Figueiredo, 3,ª ed., 1920.
N.E. – Desde cedo, os jornais da época noticiaram e comentaram esta primeira iniciativa de normalização e simplificação da escrita da língua portuguesa. Por aí pode acompanhar-se a preparação de impressores e tipógrafos para receber a reforma em vigor desde 1911; por aí perpassa o terçar de armas a favor de e contra, que chegou a ser impugnado por petição coletiva; e por aí se percebe que a liça em torno do mais recente Acordo Ortográfico de 1990 é o regressar de uma velha questão do princípio do século XX, em que entraram nomes como José Correia Nobre de França, Alexandre Fontes, Henrique Brunswick e os dos filólogos Aniceto dos Reis Gonçalves Viana e Cândido de Figueiredo, que assinaram cartas em Diário de Notícias e n' O Seculo. Intitulada “A Questão Ortográfica", Gonçalves Viana, relator da Comissão Oficial da reforma ortográfica de 1911, dirigiu uma a carta Rodolf Horner e uma outra a Cândido de Figueiredo (“A reforma ortográfica").