Após o recente anúncio do Governo português segundo o qual o Acordo Ortográfico vai ser assinado por Portugal até ao final do ano, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) exige a continuação do debate. No Brasil, Evanildo Bechara reage contra a timidez do Acordo que, segundo o linguista, não simplifica suficientemente as regras do hífen nem as da acentuação gráfica.
Mas não é só o Acordo que provoca reacções: o anúncio da adopção do inglês em cursos de mestrado (segundo ciclo de estudos superiores de acordo com Bolonha) recebeu nota negativa do constitucionalista Jorge Miranda. Antes dos argumentos, a imagem da cena futura: «não vai continuar a imensa maioria de professores e alunos a ser constituída por portugueses? Professores portugueses vão ensinar em inglês a alunos portugueses?»
1. Assinalamos neste dia o centenário do lexicógrafo Francisco Rebelo Gonçalves. Da sua extensa obra, importa relevar o Vocabulário da Língua Portuguesa (Coimbra Editora, 1966) muito procurado e esgotado há décadas.
2. O Acordo Ortográfico foi à Assembleia da República: a ministra da Cultura garantiu que Portugal assinará o protocolo modificativo até ao final do ano, mas que vai pedir um adiamento de 10 anos para a entrada do documento.
3. Um mesmo verbo pode ter várias regências, de que resultam matizes a nível do significado: são exemplo disso mesmo os verbos fugir, dizer e amar.
A metáfora não é um fenómeno acantonado apenas à literatura. É também um processo semântico, um mecanismo de conceptualizção do mundo reflectido na língua, idiossincrático de uma comunidade de falantes. Daí que haja alguma contradição em chamar metáforas mortas a expressões como pernas da mesa ou dentes do pente: afinal, elas estão bem vivas, dado que andam na boca de toda a gente...
Quando não há nada para discutir, discute-se o acordo ortográfico — à semelhança do que os ingleses fazem com o tempo atmosférico?
Francisco José Viegas dá-nos uma visão céptica e pragmática face ao (iminente?) desfecho da questão do acordo.
Se é verdade que se trata de mudanças que afectam apenas a grafia da língua — facto que é importante sublinhar —, não é menos verdade que é na norma ortográfica do português europeu que mais alterações há a registar.
Questões d'aquém e d'além ortografia: acima de tudo, há que olhar para o mapa e para a língua e ver dimensões e proporções. Os 200 milhões de falantes do português não estão dentro das fronteiras de Portugal e é natural que muitas das evoluções e inovações lexicais, semânticas e sintácticas ocorram fora do âmbito do português europeu. (Ver Muçulmanos e sírios enriqueceram idioma português no Brasil.)
Vários estudos, várias épocas, vários contextos e necessidades: a descrição de diferentes dimensões da língua é trabalho sempre em recomeço. Obras de referência como Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa e Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, de que se reclama reedição urgente 1 (ver O centenário de Rebelo Gonçalves) ou obras de aplicação como Projectos de Escrita são exemplo da longevidade e vitalidade da investigação sobre a língua portuguesa.
Uma área de trabalho premente é, sem dúvida, a do ensino de português para estrangeiros. Só um número para ilustração desta urgência: quatro mil imigrantes realizaram no passado dia 10 de Novembro a prova de Língua Portuguesa, com vista à obtenção da nacionalidade portuguesa.
1 De louvar a edição de Obra Completa — Francisco Rebelo Gonçalves (3 vols.), da Fundação Calouste Gulbenkian (1995-2002), apesar de não incluir as duas obras acima mencionadas.
1. São vários os tipos de argumento que legitimam o que se diz. Usa-se "impredizibilidade", quando há boas razões para preferir imprevisibilidade. E a necessidade de harmonizar usos fundamenta o alargamento de certas convenções — veja-se o caso das maiúsculas em Dia da Alimentação.
2. As Notícias focam as provas de aferição dos 4.º e 6.º anos do ensino básico em Portugal.
3. Um agradecimento especial à Fundação Vodafone, na pessoa da presidente da respectiva Comissão Executiva, dra. Luísa Pestana, que renovou por mais um ano o seu apoio mecenático ao Ciberdúvidas — à semelhança do que antes também deliberara a administração dos CTT, Correios de Portugal, como aqui já foi registado.
4. O patrocínio conjunto da Fundação Vodafone e dos CTT garante a continuação deste espaço de esclarecimento, informação e debate sobre a língua portuguesa, único no género em todo o espaço da lusofonia via Internet. O Ciberdúvidas conta ainda com o apoio da Universidade Lusófona, em cujas instalações funciona, em Lisboa, e do Ministério da Educação, responsável pelo destacamento dos professores Ana Martins e Carlos Rocha.
Um consulente angolano quer saber se a análise gramatical que fez está correcta. Muito depende da coerência dessa descrição com a perspectiva e a terminologia escolhidas. Contudo, o poder descritivo de tais instrumentos é sempre posto à prova, podendo revelar-se a sua insuficiência; como explicar, por exemplo, a concordância com o predicativo do sujeito ou o comportamento semântico do verbo fazer na expressão fazer anos? Muitas vezes, é a imprevisibilidade de certos factores culturais que dá o toque inconfundível de uma língua. É sempre possível identificar a forma mais correcta de um nome próprio? Que leva os falantes de português ao uso frequente dos diminutivos? No fundo, as palavras também espelham as nossas vidas.
1. O português expande-se, a avaliar pelas Notícias. David Graddol, linguista britânico, vaticina um aumento significativo do número de falantes até 2050, em África e no Brasil. Para prová-lo, para lá do Rio Grande do Sul, no Uruguai, torna-se obrigatório o ensino da língua portuguesa a partir do 6.º ano de escolaridade. Por ironia do destino, em Portugal, Mariano Gago, ministro da Ciência, da Tecnologia e do Ensino Superior, revela que, no quadro da União Europeia, responsáveis das universidades que aderiram ao Processo de Bolonha estão a considerar a generalização do inglês aos mestrados. Sabendo que o ensino superior português está a adaptar-se ao referido processo, será que em Portugal, em 2050, a investigação científica e tecnológica vai ser unicamente apresentada e discutida em inglês?
2. Entretanto, a língua portuguesa está bem viva e intriga consulentes do Brasil e também de Portugal — é o que mostra esta actualização. Falamos do adjectivo dispendioso, do substantivo varejista, das subtilezas do infinitivo seleccionado por deixar, da (eventual) existência do dual em português e da conjugação do verbo poder.
Como adaptar palavras estrangeiras, que não se conformam aos padrões fonéticos e morfológicos das variedades do português? Entre os países onde se fala a língua portuguesa, as soluções podem ser diferentes; ora vejamos:
— O plural de mórmon no Brasil não é bem o mesmo que em Portugal.
— Como pronunciar expertise e voucher? Os estrangeirismos podem não soar de forma idêntica consoante estejamos em São Paulo, no Porto ou em Maputo.
— E os latinismos? Como havemos de os proferir?
É claro que este tópico acaba por encontrar o da variação em geral, como são os casos da regência do verbo acordar e da forma judio.
Apesar de tudo, compreendemo-nos, sorrindo às nossas diferenças. Por isso, adaptando uma expressão inglesa, dizemos: a variedade também dá sabor à língua.
1. Da XII Reunião do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) resultou o compromisso do Governo português: ratificar o protocolo modificativo do acordo ortográfico. Será este o princípio do fim de uma longa discussão?
2. O Brasil celebra hoje, 5 de Novembro, o Dia Nacional da Língua Portuguesa. Não era altura de Portugal aderir a esta celebração?
3. Invocar e evocar — são sinónimos, parónimos ou variantes ortográficas?
4. Sem dar lugar a interrogações está a renovação do apoio da Fundação Vodafone ao Ciberdúvidas — fundamental para a continuidade deste serviço.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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