«Câmara do Porto vai reduzir "ao mínimo" a informação dada aos cidadãos», assim reza o título de uma notícia de 20 de maio de 2025 no Jornal de Notícias (JN). Lendo o texto, percebe-se depois o significado de tão drástica decisão, que, citando o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, decorre de «uma tentativa de quartar o espaço e a liberdade de ação, em prejuízo direto do serviço público às populações». O que deveria ter sido escrito na citação é coartar, e não quartar, e, se o erro não é de quem falou, porque as palavras referidas são homófonas e, portanto indistinguíveis ao ouvido, então elevada é a probabilidade de o equívoco vir do registo escrito.
Mas, atendendo a que, nas suas declarações, o presidente da Câmara Municipal do Porto usa a palavra liberdade, condição tão cara à Cidade Invicta, facilmente se descobre que o vocábulo correto na citação é mesmo coartar (ou coarctar), que significa «impor limitações ou restrições» (cf. dicionário da Academia das Ciências de Lisboa). É verbo que vem, por via erudita, do latim coarctāre ou coartāre, «estreitar, apertar», de arctāre ou artāre (no sentido definido), de arctus ou artus,a,um no sentido de «estreito, apertado» (Dicionário Houaiss).
Quartar não tem, portanto, cabimento na notícia em causa – por enquanto, porque vai sempre a tempo de ter correção –, e menos ainda quando se tem em conta quer a semântica quer a etimologia. É verbo usado em duas aceções, «em esgrima, desviar-se da linha» e «juntar quatro farinhas para fazer o pão quartado» (Infopédia). E é derivado de quarto, um quantificador numeral fracionário (ibidem).
Enfim, mais um caso de desalinho ortográfico por causa da sempre traiçoeira homofonia.