1. A ideia de trajetória ou de percurso delimitados associa-se à sequência das preposições desde até no mesmo enunciado: «Conduziu desde Tomar até Lisboa». Mas estará incorreta a ocorrência da conjunção coordenativa copulativa e com a preposição até: «conduziu de Tomar e até Lisboa»? A resposta encontra-se no Consultório, em cuja atualização também se aborda o género de PayPal. Além disso, distinguem-se os diferentes tipos de coesão (lexical, referencial, interfrásica, temporal e frásica), enumeram-se os atos ilocutórios declarativos e comenta-se a concordância verbal entre sujeito e predicado na frase "onde ficam os bombeiros?". Analisa-se ainda o caso particular do adjetivo melhor, grau comparativo de superioridade do adjetivo bom e do advérbio bem.
2. No Pelourinho, volta a chamar-se a atenção para a expressão "à séria", um uso desleixado, próprio da linguagem informal, infelizmente recorrente na imprensa portuguesa, em lugar de «a sério», que é a locução adverbial correta e devidamente dicionarizada. Desta vez, foi numa notícia publicada no Expresso, no dia 23 de outubro, a propósito de o ator Alec Baldwin ter matado uma pessoa da equipa de filmagens de um western em que ele também é o produtor.
3. Em O Nosso Idioma, Lúcia Vaz Pedro dá conta da função e do valor dos adjetivos qualificativos, neológicos uns, outros raros e caídos em desuso, mas que revelam a riqueza vocabular da língua portuguesa. Na mesma rubrica, transcrevem-se, com a devida vénia, dois textos da edição do jornal Público de 23 de outubro de 2021:
♦ "As palavras que empobrecem a nossa cabeça" artigo de opinião que o historiador e político José Pacheco Pereira assinou para dar conta de quatro palavras que, pela sua distorção e perda de sentido, fazem estragos na política em Portugal: liberdade, socialismo, bloco central, clarificação;
♦ "Em inglês é mais snobe", de José Manuel Barata-Feyo, que parte da banalização do erro gramatical para um comentário sobre a profusão pretensiosa de anglicismos nos media portugueses em geral e, em particular, no jornal no qual ele é o atual provedor dos leitores.
4. Recorde-se que, no Palavras Cruzadas, de Dalila Carvalho, o ambiente e o clima são temas de análise nesta semana. Este programa vai para o ar na Antena 2 de segunda a sexta (de 25 a 29 de outubro, às 09h50 e às 18h20*).
5. Assinala-se na presente data o Dia Mundial da Ópera, coincidindo com os aniversários de Georges Bizet (1838-1875) e de Johann Strauss II (1825-1899), compositores de algumas das mais conhecidas óperas e operetas. Esta comemoração foi instituída em 2019 por iniciativa da Opera América, Ópera Latino-América e Ópera Europa. Em Portugal, é ocasião para um diagnóstico da arte operática, que tem atravessado uma profunda crise, de acordo com o balanço preocupante da cantora lírica, produtora e diretora artística Catarina Molder, que, no jornal Público, sublinha: «Não tem havido uma estratégia de serviço público exigida pela tutela na gestão do único teatro de ópera português – o Teatro Nacional de São Carlos – que devia ter responsabilidades acrescidas e teima em ser impermeável ao meio e produção cultural portugueses, ao público de hoje, aos criadores de hoje e à ópera dos nossos dias.»
Sobre a ópera e à volta do seu contexto cultural, recordamos, entre outros, os seguintes textos disponíveis no aquivo do Ciberdúvidas: A evolução da palavra latina opera para português, Prima-dona, «Um meio-soprano», ou «uma meio-soprano»? Bartoli esdrúxula, Aïda, A origem do nome Aida", «As expressões da ópera D. Quixote, de António José da Silva», Cultura popular e cultura erudita e O crioulo ca, bo-verdiano em ópera". Na imagem, a fachada do único teatro de ópera em Portugal, o Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa. Fica também um registo da ária "Près des remparts de Séville" da Carmen de Bizet, interpretada pela meio-soprano espanhola Teresa Berganza, a contracenar com Plácido Domingo, na produção que a Opéra National de Paris levou a cabo em maio de 1980.