O melhor será remontarmos ao latim opus, termo que se referia ao trabalho em sentido concreto, ou seja, à sua manifestação física ou “palpável”: o trabalho dos campos (tanto dos animais como dos agricultores), o trabalho dos escravos, o dos soldados e, por extensão, a obra do artista ou do escritor. Este termo ainda se usa hoje em dia na linguagem musical, normalmente seguido de um número, para designar a obra de um compositor pela ordem da sua publicação, para não falarmos do Opus Dei, sobejamente conhecido, pelo menos de nome…
Em latim, opus é do género neutro e faz no plural opera («trabalhos, obras»), que, por ter e breve, se pronuncia “ópera”. Do plural neutro opera derivou o latim o feminino singular opera, que se pronuncia da mesma forma e se refere ao trabalho em sentido abstracto, ou seja, à actividade daquele que trabalha, normalmente de livre vontade e com desejo de servir, por oposição a otium. É da forma acusativa deste feminino singular que, como refere o nosso consulente, deriva o nosso termo obra, que obviamente nos chegou por via popular.
Quanto ao termo musical ópera, ao contrário do que opina o nosso consulente, ele não nos chegou directamente do latim, mas entrou por via do italiano opera. O termo italiano deriva da expressão opera in musica, susceptível de duas interpretações. Há quem considere que está em latim, e então opera seria o plural de opus, significando a locução «obras (postas) em música», e há quem entenda que é italiano, e então o significado seria «obra (posta) em música». São em maior número os adeptos da filiação italiana, embora a primeira hipótese não seja descabida, tendo em consideração que a ópera nasceu em finais do século XVI, altura em que o latim ainda era de uso frequente em vários domínios, e atendendo também ao facto de este género musical combinar num único espectáculo cénico a arte do canto coral, do canto a solo, da declamação e da dança (o que justificaria o plural opera).
A nossa operação vem directamente, por via erudita, do latim operatione‑ («trabalho»), vocábulo pós‑clássico, não abonado nem por César nem por Cícero. Era, no entanto, frequente entre os autores cristãos, com o sentido de «obra de caridade». Este termo deriva do verbo operor («trabalhar»), e este, tal como opera, tem origem em opus.