Os adjetivos qualificativos são aqueles que introduzem uma propriedade simples nos nomes. Segundo a Gramática do Português, vol I, da Fundação Calouste Gulbenkian, pág. 1087, «a função dos adjetivos qualificativos consiste precisamente em atribuir propriedades aos nomes, nas várias dimensões em que o seu sentido se organiza (...) e dividem-se em dois grandes grupos: os que denotam estados de natureza material, constitutivos dos objetos em geral (incluindo os seres humanos); e os que denotam estados físicos, psicológicos, morais e sociais, constitutivos das pessoas e de alguns animais».
Ora, os adjetivos são, efetivamente, fundamentais na nossa língua e estão entre as palavras mais procuradas no dicionário Priberam. Uma delas é abesbílico, de origem obscura e que significa «atónito, boquiaberto, espantado». Outra é demissexual, formado do inglês demisexual. Pode funcionar como adjetivo ou como nome de dois géneros e significa «que ou quem apenas sente atração sexual por alguém com quem estabeleceu uma relação emocional ou afetiva».
Além disso, entre as mais de mil novas entradas da última atualização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, houve também lugar para adjetivos de mais recente data e ainda sem consagração dicionarística. Foram os casos, entre outros, de antirracista («que se opõe ao racismo») e de oligossintomático («que apresenta leves ou poucos sintomas»).
Embora a colocação do adjetivo sirva para acentuar o significado do substantivo, dependendo de estar antes ou depois do nome, ele tem um valor absoluto, qualificativo, que, muitas vezes, desconhecemos, por via do pouco uso que se lhe dá.
É o que se pode constatar (re)lendo o livro Memorial dos Adjetivos da Língua Portuguesa, uma relíquia de 1923 da autoria do escritor e oficial da Marinha portuguesa, Quirino da Fonseca (1836-1939), com inúmeros exemplos caídos hoje em desuso.
Alguns destes adjetivos são, conceptualmente, de cariz positivo, na área dos sentimentos e vale a pena relembrá-los pelo vigor semântico que carregam e pelas riqueza e variedade que lhes estão associadas.
Por exemplo, se quisermos dizer que algo é limpo ou polido, podemos utilizar o adjetivo terso. Esse adjetivo pode surgir, igualmente, em sentido figurado, significando «puro».
Quando alguém está muito apaixonado, podemos caracterizá-lo como amantético, embora este adjetivo também possa ser usado com sentido jocoso, se for associado a atitudes ridículas devido ao seu estado passional.
Se alguém é muito afetuoso ou amoroso, dizemos que é querençoso ou quisto, isto é, «amado, querido». E alguém que faz mimos ou dá carícias é blandicioso, ou seja, faz blandícias. Também pode designar-se de fagueiro, «que afaga, dá carinho».
Quando alguém é figulino, no sentido figurado, significa que é dócil, maleável, tal como o barro. E também existe o adjetivo almo, (do latim almus, -a, -um), que significa que alguém é bom.
Se for uma pessoa que consente, é aquiescente, «que aquiesce», ou seja, que é condescendente.
Alguém com bons costumes e uma vida exemplar designa-se por morigerado (do latim morigeratus, -a, -um, particípio passado de morigeror, -ari, que significa condescender, ser complacente) e sinónimo de morígero. Alguém ou algo admirável é mirífico e se for opíparo é também suntuoso, luxuoso, faustoso.
Poderá ser venusto, se for muito formoso, e versuto, se for astuto ou esperto. Mas se for precolendo, é digno de veneração.
O adjetivo tem muitas formas de se fazer realçar: antepondo-se ao substantivo, colocando-se entre vírgulas ou no final da frase, repetindo-se intencionalmente, associando-se a um advérbio, superlativando-se. Contudo, na sua essência, há adjetivos que pela sua erudição, pelo seu valor etimológico, são capazes de acrescentar alguma subtileza que escapa àqueles que estamos habituados a usar no dia a dia.
A língua portuguesa evolui, mas não exclui, acrescenta. E é essa riqueza que a torna tão singular, tão poderosamente capaz de exprimir os pensamentos e os sentimentos de quem a domina.