1. «Se nos disserem "O cozinheiro é brutal", devemos ir cumprimentá-lo ou fugir a sete pés?» – pergunta Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, que, em O nosso idioma, dedica um apontamento à elasticidade semântica que o adjetivo brutal tem demonstrado em variados registos, pelo menos, desde a arte literária oitocentista de Eça Queirós à informalidade da apreciação de um filme nos nossos dias. Na mesma rubrica, um texto de Carlos Rocha aborda o valor documental de uma forma errada do verbo moer e explora a etimologia de xerém, termo da gastronomia tradicional de Portugal, de Cabo Verde e do Brasil.
2. Se nunca mais houvesse erros no uso existencial do verbo haver, escusado seria o reparo feito neste dia, no Pelourinho. Mas a memória humana é curta, como comprova uma breve peça jornalística que, a propósito de rivalidades entre estrelas do futebol, aventa a hipótese de que «houvessem dúvidas». Sara Mourato explica por que razão o verbo tem de estar no singular.
3. No Consultório, as novas respostas em linha abordam os seguintes tópicos: o valor possessivo do pronome átono lhe em frases como «morder-lhe as canelas»; o uso adjetival de muitos particípios passados irregulares (aceite ou aceito, feito, ganho, pago, etc.); a gramaticalidade da expressão «o demais»; e a eventual concordância do infinitivo a completar a construção «alguma coisa ser difícil de...».
4. Ainda no Consultório, uma pergunta da Guiné-Bissau permite revelar que a expressão «faltar ao respeito» conhece uma variante mais frequente no Brasil, «faltar com o respeito». Noutros países de língua portuguesa, a locução conhece, não obstante, outras formas, talvez episódicas, como acontece na Guiné-Bissau, onde, em perda para o crioulo local e as línguas tradicionais, o português continua precário, apesar do seu estatuto oficial. Tenha o futuro linguístico que tiver, as carências tantas vezes prementes da Guiné-Bissau pedem estabilidade em vários níveis para serem enfrentadas, razão por que se revestem de grande importância as eleições presidenciais de 24/11/2019. No arquivo do Ciberdúvidas são vários os artigos e respostas que abordam os aspetos linguísticos deste país, a saber: "A língua e os nomes na Guiné-Bissau"; "A grafia de Guidage/Guidaje (Guiné-Bissau)"; "Os gentílicos da Guiné, da Guiné-Bissau e da Guiné Equatorial"; "Fiz cinco anos no Brasil» (português da Guiné-Bissau)"; "Os nomes pátrios da Guiné Equatorial e da Guiné-Bissau"; "Os gentílicos de Lamego, Douro, Chaves, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe"; "O mapa etnolinguístico da Guiné-Bissau e a língua, bem maior da literatura";"O positivo e o negativo de quem ensinou português na Guiné-Bissau, na Namíbia e em Timor-Leste"; "A origem dos topónimos em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe no programa Língua de Todos"; "O Ensino 'privado' na Guiné-Bissau"; "As prioridades do IILP no mandato do seu novo diretor executivo".
5. Destaques da presente semana dos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa: no programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África na sexta-feira, dia 22 de novembro, pelas 13h20**, o 10.º aniversário da criação da cátedra de Português Língua Segunda e Estrangeira, da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane; no Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 24 de novembro, pelas 12h30**, o livro Camões Conseguiu Escrever Muito para Quem Só Tinha um Olho, de Lúcia Vaz Pedro. Destaque, ainda, em ambos programas, para uma evocação do compositor, cantor e produtor musical português José Mário Branco (1942-2019).
** Ambos os programas são repetidos: o Língua de Todos, no sábado, dia 23 de novembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 30 de novembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.