DÚVIDAS

A oração não finita de infinitivo
em «Os exercícios são difíceis de...»

Quanto à flexão, qual a indicação da gramática normativa quando, a despeito de figurar em construção de voz passiva, o infinitivo servir de complemento a adjetivo e ostentar o mesmo sujeito da oração principal?

A título de exemplo: «Os exercícios são difíceis de ser/serem resolvidos.»

Ainda, passando-se à segunda oração à construção passiva pronominal, devemos enveredar pela flexão do infinitivo passivo ou pela não flexão do infinitivo complemento?

«Os exercícios são difíceis de se resolver/resolverem.»

Resposta

Na oração infinitiva, o uso de infinitivo simples (não flexionado) é considerado a construção normativa:

(1) «Os exercícios são difíceis de ser resolvidos.»

 Não obstante, para alguns falantes é também aceitável a opção pelo infinitivo pessoal (flexionado):

(2) «Os exercícios são difíceis de serem resolvidos.»

Note-se que, nas frases anteriores, o grupo nominal «os exercícios» é sujeito semântico do verbo da oração subordinada, o que corresponde a uma construção como (3), na forma passiva, ou (4), na forma ativa:

(3) «É difícil os exercícios serem resolvidos.»

(4) «É difícil resolver os exercícios.»

Esta construção sofreu uma construção de elevação, que consiste numa situação em que o sujeito ou o complemento do verbo da oração subordinada passa a sujeito da oração principal, mantendo-se sujeito semântico ou complemento semântico da subordinada, como acontece na passagem do exemplo (4) a (1).

A frase (5) é igualmente possível, sendo de novo preferível o uso do infinitivo não flexionado (embora seja também aceitável o infinitivo flexionado):

(5) ««Os exercícios são difíceis de se resolver.»

Neste caso, estamos perante uma construção com a variante incoativa do verbo, ou seja, uma construção em que o complemento direto passa a ser usado como sujeito do verbo, sendo o sujeito não realizado, como acontece em (6):

(6) «Os exercícios resolvem-se.»

A passagem desta frase à frase (5) acontece também por elevação do sujeito.

A diferença entre as frases (1) e (5) é ténue e reside apenas no facto de esta última nunca expressar o agente da situação expressa pelo verbo (aquele que resolve os exercícios), que adquire um valor indefinido, ao passo que a frase (1) pode verbalizar este agente por meio de um complemento agente da passiva.

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