1. A pandemia trouxe consigo o "covidês", um conjunto de termos e expressões oriundos da realidade criada pela covid-19. A pesada realidade que se vive contrasta com uma fase extraordinária de criação e revitalização lexical. Neologismos lexicais e semânticos surgem em diferentes contextos, alguns até inesperados. Desta riqueza e deste dinamismo tem dado conta o glossário A covid-19 na língua, que desde março de 2020 tem vindo a compilar palavras e expressões que ganham relevo em função da dinâmica dos acontecimentos que vão ocorrendo em diferentes planos, explicando sentidos e clarificando contextos de uso. Nesta nova atualização, revelamos a criatividade linguística que tem ocorrido no plano morfológico: com os elementos compositivos coron- e covid- têm sido formados neologismos, ainda instáveis e de durabilidade questionável. Entre eles, Coronado, Coronaro, Covidar, Covidexit, Covidices e Covidivórcios. Para além destas entradas, poderão ainda ser consultados os termos «Anjos secretos», Birras, «Brigadas de intervenção rápida», «Campeões da vacinação», «Drenagem postural», Escalada, «"Evidência científica"», Imunoalergologia, Língua covid, Mastocitose, «Medicina de catástrofe», «17 milhões» e «Vacinação indevida».
2. Na atualização do Consultório, apresenta-se uma sistematização de alguns valores temporais associados ao uso do infinitivo simples e do infinitivo composto. De verbos ainda se trata quando se analisa a natureza do verbo arrastar e se classificam sintaticamente os constituintes que o acompanham na frase «Arrastou para a aventura toda a nobreza portuguesa». Ainda na análise da função dos constituintes situa-se a resposta que aborda o sintagma «inclusive eu» numa frase simples. No plano da lexicologia, ensaia-se uma possível explicação para a etimologia do topónimo Baceiros e exploram-se os significados do nome manualidades e da expressão idiomática brasileira «deixar quieto». Por fim, uma explicação relativa à necessidade de repetição de símbolos de unidade numa mesma frase.
3. Afirma o povo que «no melhor pano cai a nódoa». Isso mesmo parece ter acontecido a Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação português, ao afirmar que os alunos estão «"melhor" preparados», como explica, num apontamento para o Pelourinho, o cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa José Mário Costa.
4. As recentes eleições presidenciais em Portugal trouxeram consigo os nomes dever e direito. Sobre os seus significados em contexto de escolha e de abstenção reflete a professora Carla Marques na pequena crónica divulgada no programa Páginas de Português, da Antena 2 (aqui transcrita).
5. Os nomes de doenças são, não raro, usados como adjetivos insultuosos que se colocam ao serviço da agressão verbal. Estes usos populares esquecem, todavia, as pessoas que realmente têm essas doenças e a forma como poderão ser afetadas pelos usos abusivos das palavras que as designam. É dessa realidade que nos fala Rita Serra, bióloga e investigadora, num artigo que reflete sobre os usos indevidos do adjetivo autista e do nome autismo (publicado no jornal Público e aqui transcrito com a devida vénia).
6. A utilização imotivada (ou mal-intencionada) do verbo apanhar no título do jornal Público: «Presidente do Supremo valida escuta que apanhou Costa no caso do hidrogénio» desencadeou um conjunto de reações negativas a que José Manuel Barata-Feyo, o provedor do leitor do mesmo jornal, faz referência neste apontamento (transcrito com a devida vénia).
7. O glossário O léxico da covid-19 foi mencionado num artigo da responsabilidade da professora universitária Anabela Leal de Barros, que avalia o projeto de forma apressada e pouco informada, o que merece uma nota explicativa do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa (na rubrica Controvérsias).
8. Finalmente, estes cinco registo de atualidade:
— O Dia Mundial da Leitura em Voz alta foi celebrado a 1 de fevereiro. Trata-se de uma iniciativa criada pela organização não-governamental Litworld com o objetivo de erradicar a literacia;
— Em 2 de fevereiro, assinala-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas, que visa promover a gestão sustentada e racional destas regiões;
— O dia 3 de fevereiro marca a passagem de 55 anos da primeira «alunagem suave» de uma sonda espacial soviética (Luna 9) na Lua;
Vide, a propósito, algumas respostas disponíveis em arquivo: «A família de palavras de sol e de lua», «A formação de alunar», «Aterrar, amarar, alunar e...», «A saga dos erros cometidos na RTP», «Amartar?», «Aterrar (Portugal) e aterrissar (Brasil)»
— Em 4 de fevereiro decorrem 60 anos do início da luta armada pela independência de Angola. Depois de várias ações repressivas da polícia portuguesa, o MPLA ataca a Casa de Reclusão Militar, o quartel da PSP e a delegação da Emissora Nacional em Luanda. No norte do território, a UPA ataca fazendeiros brancos;
Questões relacionadas com Angola têm sido frequentemente tratadas no Ciberdúvidas. Por exemplo: «A língua portuguesa em Angola», «O português em Angola», «Governo de Angola», «A ortografia em Angola», «Angola, variantes da língua comum», «Angola e o Acordo Ortográfico» e «Língua e segurança nacional em Angola».
— Também em 4 de fevereiro (de 2020) foi registada a primeira morte na região administrativa especial chinesa e a segunda fora da China continental: um residente de Hong Kong de 39 anos, que morreu vítima de pneumonia viral causada pelo novo coronavírus;
— O Centro Português de Caracas, sob a direção de Sérgio Nunes, desenvolve um projeto para promover a cultura portuguesa na Venezuela, com particular atenção para o ensino da língua portuguesa (notícia aqui).