«… o resultado foi devastador: água por todos os lados, tiros certeiros na gramática e a língua a pique, tendo surgido, aos borbotões, “emersões” e “imersões”, “emergíveis”, “imersíveis” e “imergíveis”». Texto publicado no jornal “i” de 27/08/2012, na coluna do autor “O ponto no i”.
É indiscutível. [Paulo] Portas é quem mais sabe do assunto. Estava ele em sossego, e maçorianas férias, quando, assediado por jornalistas, lá teve de afirmar — reconheça-se que com toda a propriedade — que a questão dos submarinos emerge e imerge, há anos, ao sabor de desconhecidas marés.
Se os jornalistas de serviço tivessem apenas transcrito aquilo que Portas afirmou, não teria havido problemas. Mas tentaram ir mais longe e o resultado foi devastador: água por todos os lados, tiros certeiros na gramática e a língua a pique, tendo surgido, aos borbotões, “emersões” e “imersões”, “emergíveis”, “imersíveis” e “imergíveis”. Emergir é vir à tona, surgir, sair de onde estava imerso, e o seu particípio passado é emerso. Imergir é fazer submergir, mergulhar, afundar, admitindo como particípios imergido e imerso.
Portanto, emergir é o contrário de imergir. Mas é preciso reconhecer que uma pessoa não muito familiarizada com a língua possa facilmente confundir os dois termos. Ambos surgem em ambientes muito líquidos ou muito pastosos, mais naturalmente em águas profundas, onde há pouca visibilidade. Nas redondezas, investigações em águas de bacalhau.
Cf. Qual é a origem da palavra «água»? + Viagem pelos nomes da água
In jornal i de 27 de agosto de 2012. Respeitou-se a antiga ortografia do original.