Responder, acorrer, aconselhar e, principalmente, assistir — o «vencedor do festival de asneiras» aqui apontadas, neste texto crítico à volta do mau uso de regência verbais na televisão portuguesa. No jornal "i" de 17/12/2012.
Impermeáveis, botas de borracha, sem saber se deveriam segurar o guarda-chuva ou o microfone, na semana passada os nossos repórteres não tiveram como grande assunto a crise. Foi a chuva. Para pena de muitos, não houve desgraças de vulto. Assim sendo, restou apenas chapinhar a gramática, o que se torna mais fácil quando abundam os “directos”.
O vencedor do festival de asneiras foi o verbo assistir. Alguns jornalistas insistem em frases como «os hospitais assistiram a sete pessoas», quando deveriam dizer «os hospitais assistiram sete pessoas». No sentido de «dar assistência», o verbo pede um complemento directo; quando significa «presenciar», requer um complemento indirecto. Assim, um hospital assiste um determinado número de doentes, os quais podem — estes sim, e se assim o entenderem — assistir a um filme.
Outros verbos maltratadíssimos: responder («os bombeiros responderam dezenas de pedidos de ajuda» (sic); acorrer («os bombeiros acorreram mais de trinta pedidos de socorro» (sic); aconselhar («a Protecção Civil aconselhou ao encerramento da escola» (sic). A repetição do “sic” nada tem a ver com a SIC. É mera coincidência.
Chuva forte, dilúvio de asneiras. O costume.
In jornal i de 17 de dezembro de 2012, na coluna do autor Ponto do i, com o título original "Inundações". Manteve-se a antiga ortografia, seguida pelo jornal.