«Um disse “modelar”, o outro disse “modular” […]. Apesar de pouco exigentes – na escolha dos seus governantes e dos jornais que compram – os leitores sabem que com “modelação” ou com “modulação” vão acabar por abrir o bolso ainda mais e continuar a ser servidos por quem não tem respeito pela língua portuguesa.» Os equívocos à roda do uso dos dois verbos são tema da crónica do jornalistas Wilton Fonseca, publicada no jornal i de 24 de setembro de 2012.
Um disse “modelar”, o outro disse “modular”, os jornais reproduziram os dois verbos, que foram traduzidos como “flexibilizar”, “aperfeiçoar”: era a “abertura” demonstrada pelo governo para o diálogo em torno do anunciado aumento da Taxa Social Única.
Apesar de pouco exigentes — na escolha dos seus governantes e dos jornais que compram — os leitores sabem que com “modelação” ou com “modulação” vão acabar por abrir o bolso ainda mais e continuar a ser servidos por quem não tem respeito pela língua portuguesa.
“Modelar” significa construir um molde, um modelo a partir do qual algo será reproduzido. Faz-se um modelo em cera, barro, gesso ou outra matéria maleável a fim de se produzir a peça em mármore, em metal ou numa outra substância dura. O resultado não pode fugir ao modelo. Quando muito é retocado, finalizado, limado, burilado, mas a alma e a essência permanecem a mesma.
O primeiro-ministro [português] escolheu o termo correcto para indicar a sua “abertura” em relação à taxa. Modelar” é o verbo exacto. Pois o modelo já lá está. O resultado final será muito parecido com ele, e em matéria duradoura.
O “modular” é outra coisa.
Texto publicado no jornal “i” de 24 de setembro de 2012, na coluna do autor, “O ponto do i”.