Alguém consegue entender a frase «descida homóloga»? — pergunta o jornalista Wilton Fonseca, a propósito de uma notícia de jornal, na sua crónica no jornal i, de 6/1/2012
Homólogo designa o que é semelhante e correspondente, embora não igual. Muito utilizado nas ciências, indica também uma correspondência de função ou de cargo público, como por exemplo na frase «Em Paris, o ministro do Mar reuniu-se com o seu homólogo francês». Não serve para indicar a coincidência de períodos de tempo ou movimentos de subida ou descida.
Veja-se como a má utilização da palavra arruinou a informação que um dos jornais de Lisboa trazia na primeira página, esta semana: «Portugal registou uma quebra de 31,3 % no número de automóveis ligeiros de passageiros comercializados, quebra essa agravada, em boa parte, por uma descida homóloga de 60,1 % nas vendas de Dezembro». Deixando de parte o terrível «automóveis ligeiros de passageiros comercializados»: alguém consegue entender o que o jornalista queria dizer com «descida homóloga»? A resposta é «não». O jornalista pretendia dizer que em 2011 a venda de ligeiros («automóveis ligeiros de passageiros comercializados») caíra 31,3 por cento, para o que muito tinha contribuído o facto de em dezembro ter sido verificada uma quebra das vendas de 60,1 % em relação a dezembro do ano anterior.
A má utilização do homólogo estragou tudo. Até mesmo a oportunidade de informar o leitor sobre um assunto que a todos evidentemente interessa.
In jornal i, de 6 de janeiro de 2012, na crónica semanal do autor, Ponto do i, que assinala alguns erros na escrita jornalística, em Portugal