«O prazo pode determinar a validade, a validade não afecta o prazo», alerta o jornalista Wilton Fonseca, a propósito da frase «[os medicamentos] estão próximos do prazo de validade». In jornal "i" de 12/11/2012.
A questão é o «prazo de validade», ou a maneira como uma simples notícia – a criação de um banco de medicamentos e produtos de saúde para os mais carenciados – pode ser transformada num quebra-cabeças.
O banco reunirá medicamentos e produtos de saúde com prazo de validade não inferior a seis meses e beneficiará os mais necessitados. Parece simples. Sabe-se que o prazo de validade tem menos a ver com o prazo do que com a validade – ou, se quisermos – mais com a validade do que com o prazo. A subalternização do prazo torna-se evidente se pensarmos que sem validade o problema do prazo nem sequer se coloca. E que, fora do prazo, um medicamento pode, ainda assim, ter ou não validade. O prazo pode determinar a validade, a validade não afecta o prazo.
O raciocínio não foi feito pelos jornalistas (SIC, RTP) que se referiram aos medicamentos que «estão próximos do prazo de validade» Ora, os medicamentos não estão próximos nem distantes dos prazos. Estão dentro ou fora deles, têm ou não validade. Se o jornalista não especifica o prazo, a notícia não tem validade. No campo dos medicamentos e da língua, há produtos que já nascem sem prazo e sem validade: têm defeitos de fabricação.
In jornal i de 12 de novembro de 2012, na coluna do autor Ponto do i, com o título original "Prazo de Validade". Manteve-se a antiga ortografia, seguida pelo jornal.