«Se não é uma manifestação do mal, o que dizer da “notícia” que afirmava que a GNR tinha “apreendido” 40 javalis que estavam “ilegalmente” em cativeiro» e insistia que os animais, “classificados como espécies cinegéticas”»?
Sempre achei que o mal existe. A sua existência não é apenas metafísica, pode ser comprovada nos comportamentos antissociais, na insensibilidade de certas decisões políticas, na incompetência profissional. No jornalismo, manifesta-se na falta de consciência do valor social da profissão, na ausência de princípios deontológicos, na publicidade disfarçada de informação, na má utilização da ciência e da arte da escrita.
Se não é uma manifestação do mal, o que dizer da “notícia” que afirmava que a GNR tinha «apreendido» 40 javalis que estavam «ilegalmente em cativeiro» e insistia que os animais, «classificados como espécies cinegéticas», estavam «em regime de cativeiro sem alvará emitido pela Autoridade Florestal Nacional, violando a Lei da Caça.»
Eis que em poucas linhas os pobres javalis levaram com tudo para cima do (apetitoso, diga-se de passagem) lombo. Tornaram-se agentes das malfeitorias relatadas pelo jornal. Além de estarem ilegalmente em cativeiro – com toda a certeza porque não tomaram nenhuma iniciativa para aceder à legalidade – violaram a Lei da Caça, justamente por causa da situação ilegal a que se submeteram.
O jornal nada disse sobre o destino dos animais «apreendidos». Talvez já tenham sido restituídos à liberdade, já não sejam mais chamados de “espécies cinegéticas” e já não violem a lei. Talvez tenham passado desta para melhor, isto é, do ilegal cativeiro consentido para os tachos de algum restaurante, “aproveitando” a oportunidade que lhes foi concedida pelas Festas.
In jornal i, de 30 de dezembro de 2011, sob o título original O mal, na crónica semanal do autor, Ponto do i, que assinala alguns erros na escrita jornalística, em Portugal