Como do uso indevido do verbo saber, em certas declarações públicas, resultam em meras declarações de suspeições, de boatos e de pura intriga – nesta crónica do jornalista Wilton Fonseca, publicada no diário português i de 24 de dezembro de 2012.
Saber é como ser, tem significado pleno. «Eu sou» ou «eu sei» não requerem complementos nem deixam lugar a dúvidas. Mas há figuras públicas e jornalistas que não querem que assim seja.
«Sei que há casos de pedofilia, conheço cinco», diz uma senhora muito ligada a obras sociais; «sabemos de onde vêm as fugas de informação, mas não podemos prová-lo», diz uma alta responsável pela justiça. Deliberada e imediatamente são lançadas a suspeição, o boato, a intriga. Em nada se contribui para o esclarecimento do que quer que seja. Com plena cumplicidade dos jornalistas, os meios de comunicação são instrumentalizados e propagam os rumores.
Os jornalistas, em vez de pressionarem as tais individualidades com algumas perguntas, aceitam – por comodismo ou incompetência – a maneira como certas afirmações são proferidas. E estas são repetidas ad nauseam, sem um segundo de reflexão ou um minuto de investigação. Como os assuntos nunca mais são investigados nem as pessoas voltam a ser com eles confrontados, o jornalismo transforma-se em simples retransmissor de afirmações. Todos passam a saber aquilo que alguns dizem que sabem, sem que ninguém saiba aquilo que eles dizem saber.
In jornal i de 24 de dezembro de 2012, na coluna do autor Ponto do i, com o título original "Saber". Manteve-se a antiga ortografia, seguida pelo jornal.