Um parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, sobre contenção de custos no Serviço Nacional de Saúde em Portugal (nomeadamente na medicação em doentes terminais), deu azo à confusão entre «racionalização» e «racionamento», aqui abordado pelo jornalista Wilton Fonseca, no jornal “i” de 8-10-2012.
Bandeira ao contrário, ausência do povo: o 5 de Outubro ficará na memória colectiva como símbolo de um país que se rendeu à subversão - subversão de valores, subversão linguística. Esta última já havia protagonizado, dias antes, um grande espectáculo demagógico em torno de declarações relacionadas com a Saúde.
O Conselho Nacional de Ética defendeu a «racionalização» dos gastos no sector da Saúde. O escasso conhecimento da língua (por parte do Conselho e da comunicação social) e a demagogia transformaram «racionalização» em«racionamento»; este foi explicado como algo «explícito», «transparente»,«dialogante», «participativo». Subversão total.
Racionalização é a acção ou resultado de racionalizar, o processo pelo qual se analisam os fenómenos à luz da razão. Racionamento não é sinónimo de«racionalmente». É partilha, limitação de determinados bens, ordenada para fazer face a uma situação de escassez. Pode ser «explícito» e «transparente», mas é indiferente que seja«dialogante» ou «participativo». Se há racionamento, há escassez. O que não é bom.
A má utilização dos dois termos subverteu uma discussão que poderia ter sido útil e oportuna. Virou a bandeira ao contrário, como no 5 de Outubro.
in jornal “i” de 8 de outubro de 2012, na coluna do autor “Ponto do i”, sob o título original “A Bandeira”. Manteve-se a norma ortográfica de 1945, seguida pelo jornal.