1. Com o aumento mundial de casos de covid-19, sucedem-se notícias a respeito de fármacos, de precauções a tomar, do grau de vulnerabilidade ao SARS-CoV-2 e de formas de enfrentar a crise económica e social decorrente. Em "A covid-19 na língua" (O nosso idioma), entram, portanto, doze novos termos, repartidos por diversas áreas lexicais. Assim, entre os medicamentos, contam-se, por um lado, antibióticos que a Organização Mundial de Saúde já declarou ineficazes, como sejam a azitromicina e a amoxicilina, e, por outro, os corticoides,o ibuprofeno, o paracetamol, que atenuam ou suprimem sintomas como febre e dores musculares. Quanto à bioquímica do novo coronavírus, registam-se massa molecular, material genético e partícula viral. Referindo a prevenção e o tratamento da doença, ocorrem as expressões sistema imunitário (ou sistema imunológico, ou, ainda, sistema imune) e espectrometria de massa. Acerca do risco de mortalidade, fala-se do fator idade. À volta do impacto negativo da pandemia, insiste-se na locução retoma progressiva.
2. Ao Consultório, chegam sete dúvidas: donde vem a forma dialetal "devolvero", equivalente a devolveram? Para falar dos naturais de Matosinhos, é correto empregar o termo matosinheiro? Como deve dizer-se: «modelagem» ou «moldagem de balões»? As reticências podem ser seguidas de ponto? A preposição para tem sílaba tónica? Que sentido se dá à locução «estar para ali»? Por último, uma pergunta de sintaxe e semântica: o verbo concorda no singular ou no plural com «um total de 35 médicos»?
3. Quem foi, afinal, Machado de Assis (1839-1908)? Qual o seu segredo? Como conseguiu ele contornar o classismo e o racismo da sociedade brasileira de finais do séc. XIX e alcançar o reconhecimento institucional do seu mérito literário? Em O nosso idioma, transcreve-se com a devida vénia, do jornal digital Tornado, uma breve biografia deste escritor brasileiro, «um homem «tão recatado, tão cioso da sua intimidade, [que] só teve um descuido, só deixou uma porta aberta: os seus livros». Um trabalho do jornalista brasileiro José Carlos Ruy, que recolhe também algumas observações da crítica literária e ensaísta Lucia Miguel Pereira (1901-1959).
4. Conforme aqui se anunciou, 30 de setembro p. p., em Lisboa, fez-se a divulgação pública dos resultados do estudo Práticas de Leitura dos Estudantes dos Ensinos Básico e Secundário, coordenado pelo Plano Nacional de Leitura 2017-2027 e pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa. A grande conclusão é preocupante – há um decréscimo nos hábitos de leitura (ler também aqui) – e aponta para a necessidade de redefinir estratégias para incentivar no seio das próprias famílias o interesse e a vontade de participação na cultura escrita. O registo vídeo deste evento encontra-se aqui.
5. O feriado de 5 de Outubro em Portugal assinala o fim da monarquia e a implantação da República em 1910. Um século e uma década depois, novamente se comemora a data, em ano marcado pelas restrições do combate à covid-19; mas nem por isso se deixa de evocar a efeméride, celebração a que o Ciberdúvidas também se associa, relembrando conteúdos à volta do tema e da sua repercussão na norma linguística: "'Viva a República' e 'Vivà República'", "As palavras república e monarquia", "100 anos de reformas ortográficas","'As mudanças na orthographia da lingua portugueza» há 100 anos", "A palavra verdade, vocábulos das eleições portuguesas e a 1.ª reunião do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa", "A ortografia antes de 1911", "Quando o s passou a escrever-se z", "Reforma de 1911 em Portugal. Acordod ortográficos"
Na imagem, uma página da Ilustração Portuguesa, 2.ª série, n.º 250, 5 de Dezembro de 1910, na qual se vê o famoso busto da República do escultor Simões d'Almeida Sobrinho (1880-1950) . Sobre esta escultura, que hoje se encontra.no Museu da Presidência da República, em Lisboa, lê-se na Wikipédia: «Escultura de Simões de Almeida, tendo como modelo Hilda Puga. Hilda tinha 16 anos, e trabalhava numa camisaria na R. Augusta, na Baixa de Lisboa. Estava a fazer uma entrega quando se cruzou com o escultor, que lhe achou graça e a convidou para ser sua modelo.»
6. Destaques dos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa: no Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, dia 2 de outubro, pelas 13h20*; com repetição no sábado, dia 3 de outubro, depois do noticiário das 09h00*), além da intervenção da professora Sandra Duarte Tavares, que apresenta o seu livro Fala sem Erros, a crónica da linguista Edleise Mendes, sobre a cooficialização de línguas no Brasil; no Páginas de Português, (Antena 2, domingo, dia 3 de outubro, pelas 12h30*, com repetição no sábado, dia 10 de outubro, às 15h30*), uma entrevista a Carlos Reis, a propósito da sua Última Lição, proferida em 28 de setembro p. p. (vídeo da aula completa aqui), bem como a crónica da professora e linguista Carla Marques sobre as palavras doença e cura.
*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
7. Devido ao feriado de 5 de Outubro, em Portugal, a próxima atualização do Ciberdúvidas fica marcada para quarta-feira, 7 de outubro de 2020.