Antes do Formulário Ortográfico de 1911, que marcou a primeira reforma profunda da ortografia da língua portuguesa, não havia propriamente um corpo de regras que fosse adotado por todos. Seguia-se uma tradição não sistematizada, fortemente etimológica (daí o ph, o th, o ch com valor de [k]) e até pseudoetimológica. Verificavam-se, por isso, grandes divergências entre formas de palavras, justamente porque a ortografia não estava totalmente fixada num documento acessível ao público. Deve, contudo, registar-se que, no século XIX, se procurou reduzir ao mínimo a arbitrariedade desta escrita etimológica com a publicação, em 1866, de um vocabulário ortográfico, o primeiro da história ortográfica do português (cf. Artur Anselmo, Vocabulários da Língua Portuguesa Editados em Portugal (1866-1970), comunicação apresentada à Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa em 9/07/2009). Sobre este assunto, aconselho também a leitura de uma obra publicada em 1987, por alturas do reacender do debate sobre a ortografia: Ivo Castro e outros, A Demanda da Ortografia Portuguesa, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1987.
N.E. – Desde cedo, os jornais da época noticiaram e comentaram esta primeira iniciativa de normalização e simplificação da escrita da língua portuguesa. Por aí pode acompanhar-se a preparação de impressores e tipógrafos para receber a reforma em vigor desde 1911; por aí perpassa o terçar de armas a favor de e contra, que chegou a ser impugnado por petição coletiva; e por aí se percebe que a liça em torno do mais recente Acordo Ortográfico de 1990 é o regressar de uma velha questão do princípio do século XX, em que entraram nomes como José Correia Nobre de França, Alexandre Fontes, Henrique Brunswick e os dos filólogos Aniceto dos Reis Gonçalves Viana e Cândido de Figueiredo, que assinaram cartas em Diário de Notícias e n' O Seculo. Intitulada “A Questão Ortográfica", Gonçalves Viana, relator da Comissão Oficial da reforma ortográfica de 1911, dirigiu uma a carta Rodolf Horner e uma outra a Cândido de Figueiredo (“A reforma ortográfica").
Cf. Ortographia escripta: como se escrevia antes do Acordo Ortográfico de 1911