1. Em A Covid-19 na língua, alerta-se para o perigo dos boatos com a entrada de «pandemia da pandemia», uma expressão criada pelo escritor luso-angolano José Eduardo Agualusa (ver crónica publicada no jornal brasileiro O Globo, de 29/02/2020), para referir a "infeção" de preconceitos que as notícias falsas fazem circular no contexto da pandemia em curso. A propósito dos ataques de pânico, fobias e sinais de depressão motivados pela covid-19, nomeadamente nas crianças e adolescentes em Portugal, inclui-se também na referida rubrica o vocábulo pânico, palavra que provém do grego panikós, «relativo a Pã», deus perturbador dos espíritos, e denota um sentimento sufocante de ou ansiedade.
2. No Consultório, algumas questões importantes sobre a língua portuguesa: a hipérbole «toda a vida e mais seis meses»; o verbo achar como transitivo-predicativo; o complemento oblíquo na estrutura «acabar por» + infinitivo; o género do nome terminal; o uso da locução «em certo momento»;
3. Em O Nosso Idioma, aborda-se o verbo desservir, palavra que deriva por prefixação de servir e que, apesar de ter registos bastante antigos, pode parecer recente a muitos falantes da língua portuguesa. É verbo que tem tido utilização recorrente, como assinala a professora Lúcia Vaz Pedro, num apontamento sobre esse verbo.
4. Destaque para a morte prematura da cantora brasileira Marília Mendonça, num acidente de avião no dia cinco de novembro, cuja voz potente e grande popularidade lhe deu o nome de «rainha da sofrência». Este substantivo feminino, apesar de ainda não dicionarizado, surge por derivação sufixal (a partir do tema sofre-, do verbo sofrer + sufixo -ncia) e aplica-se nomeadamente ao tipo de música que exalta o sentimento intenso de quem sofre com uma desilusão amorosa. Este termo ganhou notoriedade no Brasil graças ao cantor baiano Pablo. Não demorou muito para que as músicas feitas pelo artista fossem associadas à "sofrência", surgindo assim um novo género musical no Brasil, que mistura o ritmo do sertanejo, do arrocha e a música brega. Marília Mendonça era também uma das representantes do movimento batizado "feminejo". Com letras sobre desilusões amorosas, superação de relacionamentos abusivos, autoestima feminina e apoio entre mulheres, Marília Mendonça trouxe o termo para o cenário desse estilo musical ainda tão masculino. O termo, que também ainda não se encontra dicionarizado, resulta de um processo irregular de formação, juntando partes de duas palavras: feminino e sertanejo. A esse processo dá-se o nome de amálgama.