Na construção apresentada, o constituinte cansado desempenha função sintática de predicativo do complemento direto.
O verbo achar é apresentado tipicamente como um verbo transitivo-predicativo que pede, por essa razão, um complemento direto e um predicativo do complemento direto. Esta estrutura fica clara numa frase como a que se apresenta em (1), na qual «a Maria» é complemento direto e «cansada» predicativo do complemento direto.:
(1) «O João acha a Maria cansada.»
Este tipo de construção admite paráfrase por uma frase que inclui uma oração subordinada completiva, o que vem mostrar que «a Maria cansada» é equivalente a uma oração copulativa, uma vez que o adjetivo predica sobre o complemento direto (esta situação designa-se oração pequena):
(2) O João acha que a Maria está cansada.»
O verbo achar pode usar-se de forma reflexiva. Neste caso, o pronome reflexo funciona como complemento direto do verbo. Mas veja-se como o verbo continua a ter um comportamento transitivo-predicativo, uma vez que continua a exigir complemento direto (o pronome reflexo) e um predicativo do complemento direto, como o comprova a agramaticalidade da frase apresentada em (3):
(3) «*Ele acha-se.»
Por outro lado, continua a ser possível a paráfrase com uma oração subordinada completiva:
(4) «Ele acha que ele próprio está cansado.»
Não obstante o que ficou dito atrás, num contexto universitário, é possível problematizar as construções com o verbo achar-se no sentido de que estas podem construir-se com um predicativo do sujeito (como a consulente afirma). No entanto, esta seria uma construção particular na qual o verbo achar-se não seria um verbo copulativo. Estaríamos perante casos especiais de verbos plenos que se constroem com predicativo do sujeito1. Pela particularidade destas construções, a sua análise não é, portanto, adequada a um nível não universitário.
Disponha sempre!
*assinala a agramaticalidade da frase.
1. Veja-se, a este propósito, a análise com construções com o verbo sentir-se proposta por Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1344-1345