Quando se fala de norma-padrão em Portugal, pergunta-se frequentemente: qual é a boa pronúncia? A questão, posta em causa por estudos descritivos e teóricos, não é despicienda na vida prática; e leva a que, por exemplo, o ensino da variedade lusitana a estrangeiros tome por modelo o chamado «português de Lisboa», para o qual tende igualmente a oralidade nos media. Contudo, há quem conteste a preponderância alfacinha: o jurista conimbricense Vital Moreira, em artigo publicado no Diário Económico e divulgado na rubrica O Nosso Idioma, apresenta o dialeto da capital portuguesa como um atentado à ortoépia (ou boa pronúncia) e considera que «a principal responsabilidade da degenerescência do português falado no discurso público é a sua colonização pela pronúncia coloquial dominante em Lisboa, por efeito da rádio e da televisão»1. A esta acusação, é possível contrapor a possibilidade de a elocução alisboetada ser indício, afinal, do declínio da oratória, ou seja, da arte do bem dizer, que exige efetivamente uma grande concentração na substância do discurso. Abordagem distinta sobre o genuíno falar à moda de Lisboa pode ser lida nesta descrição de Vítor Santos Lindegaard, no blogue Travessa do Fala-Só. Ou, ainda, em O lisboetês, o coimbrês e outros sotaques + Contra o "sotaque único"
* Do mesmo autor, vide os artigos Crónica do Falar Lisboetês e Crónica do Falar Lisboetês (bis).
E em Braga? Fala-se bem? Ou falam como falam, e é o que interessa? Também a propósito de norma-padrão e variação dialetal, assinalamos o programa Páginas de Português de domingo, 15/03 (às 17h00**, na Antena 2), desta vez dedicado ao falar da região de Braga e, em especial, ao projeto Perfil Sociolinguístico da Fala Bracarense, coordenado pela professora Pilar Barbosa no Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho, entre 2011 e 2014 (consultar córpus aqui).
Lembramos ainda que o programa de rádio Língua de Todos vai para o ar na sexta-feira, 13/03, às 13h30*, na RDP África (com repetição em 28/02, às 9h10*): em foco, o português hoje em África, numa conversa com o moçambicano Raul Calane da Silva, presidente do conselho científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa.
** Hora oficial de Portugal continental, ficando também disponível via Internet, nos endereços de ambos os programas.
Ainda sobre norma e variação em Portugal, que tal passar ao Alentejo? No consultório, uma consulente manifesta preocupação pelo uso de uma variante alentejana: para quê cante, como em «cante alentejano», quando a palavra de uso generalizado é canto? E não será «qualquer outro» uma expressão que o bom uso rejeita? E que dizer de «ano de 2015»? Não estará a preposição de a mais?
Ainda em Portugal – segundo o Diário de Notícias da presente data – «escrever pela norma antiga pode tirar até cinco valores nos exames» nacionais de Português, no ensino básico e secundário, marcando assim o fim do período de transição de seis anos que vigorou no país até à obrigatoriedade legal da adoção do Acordo Ortográfico. Não é bem assim – e muito menos o que se pode inferir do título da notícia: “Acordo Ortográfico. Erros nos exames cortam 25% da nota". Na verdade, as grafias entretanto desatualizadas não têm desconto específico, sendo tratadas como outros erros de expressão escrita, todos globalmente sujeitos aos critérios de correção do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE). Nestas provas, aliás, tais erros têm muitas outras razões possíveis, como pode ler-se, por exemplo, nos critérios de correção da prova de Português do 1.º ciclo do Ensino Básico: «[N]os itens de resposta restrita, as respostas são classificadas tendo em conta, além do conteúdo, a organização e a correção da expressão escrita nos planos ortográfico, de pontuação, lexical, morfológico e sintático. No item de resposta extensa (a composição), em particular, a cotação é distribuída pelos parâmetros Tema e Tipologia, Coerência e Pertinência da Informação, Estrutura e Coesão, Morfologia e Sintaxe, Repertório Vocabular, Ortografia.» De sublinhar que, a respeito de outro tipo de prova, o IAVE já disponibilizou dados sobre a contagem de erros decorrentes do uso de grafias já não aceites: assim, na controversa Prova de Avaliação de Conhecimento e Capacidades (conhecida por PACC), a que foram submetidos muitos professores, o Acordo Ortográfico tem relação com apenas 10% dos erros de ortografia, segundo esclareceu o próprio IAVE.
Para apoio do ensino e da aprendizagem do português (língua materna e não materna), a Ciberescola da Língua Portuguesa e os Cibercursos elaboram e oferecem recursos didáticos, além de organizarem cursos individuais para alunos estrangeiros (Portuguese as a Foreign Language). Mais informações no Facebook e na rubrica Ensino.