1. O mundo atingiu no dia 29 de setembro o marco de um milhão de mortos por covid-19, o que significa que, a cada 16 segundos, há uma pessoa vitimada por esta doença. Este número motiva a introdução no A covid-19 na língua do termo Milhão, ao qual se juntam as expressões «Boatos.org», designação de uma plataforma brasileira cujo objetivo é desmontar notícias falsas que circulam na internet, e «Transportes públicos». Este número de óbitos, que foi comentado um pouco por todo o planeta, justifica que se recorde que em algarismos um milhão se regista com o número 1 seguido de seis zeros, que devem ser agrupados em três algarismos com um espaço em branco entre eles (1 000 000). Isto significa que não se deve recorrer ao uso de pontos para separar estes grupos de algarismos (como aconteceu nesta notícia).
A propósito deste tema, recordem-se algumas respostas divulgadas no Ciberdúvidas: «2500, 2 500 ou 2.500?», «Vírgulas e pontos em números cardinais», «Milhão de milhões», «Biliões, triliões, etc.», «Um bilião, outra vez».
2. Em Portugal, continuamos a assistir à opção de atribuir designações inglesas a produtos portugueses, uma situação infelizmente cada vez mais recorrente. Desta feita, aconteceu com o projeto "HomeSafe", que integra a plataforma "BeyondCovid". Trata-se de um protótipo cuja função é monitorizar alguns sintomas de covid-19 entre a população idosa. A defesa do português deve passar também pela sua elevação à condição de língua de ciência, o que poderá passar pelo recurso a designações em língua portuguesa. Vejamos como seria simples encontrar equivalentes para os nomes dos referidos projetos: «Protegido em casa» ou «Além da Covid». Esta mesma atitude deveria ter estado presente no momento de opção por designações como o selo "Clean & Safe" ou "Covid Safe" ou ainda a aplicação "StayAwayCovid", que denunciam uma infeliz submissão ao peso da anglofonia.
3. As formas troube e troubeste são, entre outras, variantes regionais do verbo trazer, cuja formação por analogia se explica no Consultório, onde também se incluem duas respostas de âmbito ortográfico: a acentuação das palavras paroxítonas terminadas em -n (como próton) e a abreviatura da fórmula antiga «atentos e veneradores», que era usada na correspondência formal. A atualização do Consultório contempla também uma questão que procura saber se o termo "jactobol" se encontra averbado no dicionário e uma outra que se centra nas diferenças entre cotexto e contexto. Por fim, analisa-se a função sintática de constituintes da frase «A Antonieta, uma rapariga que conheci no parque, é simpática».
4. O recurso à construção passiva motiva reações muito distintas, desde a total rejeição à sua aceitação em condições específicas. O que é certo é que pragmaticamente, este é um recurso linguístico que permite atenuar o peso que se colocaria sob o autor de uma dada ação ou colocar o foco sobre outro elemento da frase, como nos explica Chico Viana, especialista em Teoria Literária e colunista, no artigo «Notas sobre a voz passiva» (divulgado originalmente na página do Facebook Língua e Tradição).
5. Entre as notícias relacionadas com a língua, destaque para:
— A diretiva do Ministério da Defesa português que apela ao uso de linguagem inclusiva em assuntos que envolvam questões de género (aqui e aqui);
— A divulgação dos resultados do estudo Práticas de Leitura dos Estudantes dos Ensinos Básico e Secundário, no dia 30 de setembro, um estudo coordenado pelo Plano Nacional de Leitura 2017-2027 e pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa.
6. Comemora-se, no dia 1 de outubro, o Dia Mundial da Música, com eventos muito diversificados, que procuram responder a diferentes gostos e sensibilidades.
O tema da música tem estado presente na ótica da língua em várias respostas do Ciberdúvidas: «Música», «Músico/a», «Letra de música», «As subclasses dos nomes frio e música», «A música e o seu vasto campo lexical».
7. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, o Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, entrevista o professor universitário da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Carlos Reis, a propósito da sua jubilação, que motivou a sua «Última Lição», proferida no dia 28 de setembro, subordinada ao tema «Releitura Intermediática da Ficção Queirosiana» (a aula completa pode ser vista aqui). Neste programa ainda, uma crónica da professora e linguista Carla Marques sobre as palavras doença e cura (domingo, dia 3 de outubro, pelas 12h30*, com repetição no sábado, dia 10 de outubro, às 15h30*). O programa programa Língua de Todos, emitido pela RDP África, convida a professora e linguista Sandra Duarte Tavares, que virá apresentar o seu livro “Fala sem Erros”, onde se abordam erros típicos da língua portuguesa. Ainda a crónica da professora Edleise Mendes, sobre a cooficialização de línguas no Brasil: Português, línguas indígenas e línguas de imigração (sexta-feira, dia 2 de outubro, pelas 13h20* (com repetição no sábado, dia 3 de outubro, depois do noticiário das 09h00*).
*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.