Com efeito, nalgumas fontes encontramos a definição de cotexto como correspondendo à divisão do texto em partes. Todavia, sem outra explicação, esta definição pode conduzir a interpretações erróneas sobre o conceito em causa.
O cotexto1 refere a relação que as unidades linguísticas estabelecem dentro do texto de forma a contribuir para a fixação da significação de uma dada unidade. Por essa razão se afirma que o cotexto permite desencadear processos de desambiguação, estabelecendo relações intertextuais e intratextuais.
Observemos, por exemplo, a frase (1):
(1) «O João é filho da Maria.»
Neste caso, os nomes filho e Maria estabelecem uma relação cotextual, na medida em que ao relacionarem-se entre si contribuem para a criação de sentidos de dependência. Este facto permite também compreender por que razão não podemos considerar que uma unidade isolada é o cotexto.
Observe-se ainda que, em algumas posições teóricas, o cotexto é designado contexto verbal.
Já a noção de contexto tem a ver com a circunstâncias de produção do enunciado, que criam um efeito de indexicalidade, que se relaciona com o produtor, o tempo ou o espaço de produção, por exemplo. O termo contexto aponta também para as condições extralinguísticas de produção dos enunciados, incluindo as realidades extralinguísticas que o enunciado refere.
Como se pode concluir desta breve síntese, a proposta que a consulente faz é redutora e acaba por não incluir as características essenciais que cada conceito envolve.
1 Esta noção foi proposta em Yehoshua Bar-Hillel, Aspects of Language. Jerusalem, The Magnes Press, Hebrew Univ. and Amsterdam, North-Holland, 1970.