1. A atualidade fez emergir, de novo, três erros recorrentes no audiovisual português, que justificam algumas chamadas de atenção:
– Com a notícia de que António Guterres vai escolher uma mulher para secretária-geral adjunta da ONU, volta a ser audível alguma resistência à formação do feminino de cargos ou profissões tradicionalmente exercidos por homens – no caso, «uma "secretário-geral adjunto"», em lugar de «uma secretária-geral adjunta». Tal como, por exemplo, é «a ministra» ou «a primeira-ministra» (e não «a ministro» e «a primeiro-ministro}, «a juíza» (e não «a juiz»), «a bombeira» (e não «a bombeiro»), «a carteira» (e não «a carteiro»), «a pedreira» (e não a pedreiro», «a tesoureira e a secretária» (e não «a tesoureiro e a secretário»), etc., etc.. Sobre este tópico do procedimento geral da formação do feminino no português, consulte-se, entre outras respostas e artigos, no arquivo do Ciberdúvidas: Feminino; masculino + Sobre a formação do feminino + O masculino, o feminino e outras (não) regras + Os géneros masculino, feminino e neutro + O sexo das profissões + Os cidadãos e a gramática + A chanceler, a chancelera ou a a chancelerina? + Poetisa inferioriza? + O feminino de médio + O feminino de músico + O feminino de maestro + Ainda o feminino de capitão + Infanta, um caso particular do feminino + Sobre o uso da forma presidenta no Brasil + Pai e mãe que estais no céu + Sobre o género gramatical das palavras.
– A propósito da entrega formal, em Portugal do Orçamento de Estado na Assembleia da República em 14/10/2016, também se nota a hesitação com que se pronuncia a vogal tónica de acordos. Sobre o plural de acordo, que mantém o o fechado ("acôrdos"), consulte-se este texto no Pelourinho.
– À volta do caso de agressão que envolve os filhos do embaixador do Iraque em Portugal, fala-se na possibilidade de recorrer à figura diplomática da persona non grata. Mas, tratando-se de dois indivíduos, qual será o plural da expressão latina? Personae non gratae – nunca "personas non gratas", nem "persona non grata", como forma invariável –, como aqui se explica.
– Sobre estas e outras incorreções recorrentes no espaço mediático português, e o efeito na propagação dos maus usos da língua, vale pena a (re)leitura de Soa bem ou mal?, uma crónica de Ana Martins.
2. No consultório, são sete as perguntas em linha: na gíria militar, o que significa «passar à peluda»? E o que é um «prego fácil»? Numa oração subordinada temporal, que marque um acontecimento futuro, o que é melhor: «quando vêm» ou «quando vierem»? Há diferença entre «de harmonia com» e «em harmonia com»? Qual é o nome coletivo correspondente ao substantivo deputado? Que nome se dá a um período de sete anos? E como chamar uma pessoa que faz uma dieta à base de peixe?
3. Na Montra de livros, apresenta-se uma obra que revela como a comunicação de hoje motiva a criação e a adoção incessantes de novos termos. Trata-se do Novo Dicionário da Comunicação, um livro publicado em Portugal em 2015 pela Editora Chiado, no qual se recolhem alguns dos neologismos de mais frequente uso mediático, entre eles os muitos anglicismos com que se vai tecendo a globalização.