O facto de as línguas possuírem uma origem comum não significa necessariamente que os vários nomes sejam do mesmo género. É preciso ter em conta que a evolução do Latim (no caso das línguas em questão) não se processou da mesma maneira nas diversas regiões do império romano em que prevaleceu. Houve variações na sua evolução devido, por um lado, às línguas já existentes nessas mesmas regiões, e, por outro, a línguas que posteriormente vieram influenciar a língua falada. Gauleses e Lusitanos, por exemplo, não falavam a mesma língua, o que implica influências distintas no Latim falado nessas regiões. Além disso, a Península Ibérica foi invadida por outros povos (como os Mouros) que necessariamente influenciaram a língua já existente.
Um outro aspecto a ter em conta é o facto de o Latim possuir três géneros (masculino, feminino e neutro), enquanto as línguas latinas possuem apenas dois (masculino e feminino), o que originou divergências nas línguas românicas quanto ao género a dar a nomes provenientes do neutro latino. Essa divergência baseia-se fundamentalmente no sufixo que cada uma das línguas latinas apresenta para o masculino e o feminino.
A este respeito recorde-se o que diz José Joaquim Nunes, Compêndio de Gramática Histórica Portuguesa: «Mas, se os nomes dos seres sexuados, como era natural, continuaram em geral a ter, neste [o romance], o género a que já pertenciam naquela não sucedeu o mesmo com os que não estão neste caso, os quais divergiram nas línguas românicas, que, regulando-se em geral pela vogal final, chamaram masculinos aos que terminavam em "-o" (ou "-u"), e femininos os acabados em "-a", variando nos de terminação diferente. (...).
Aqueles, porém, que finalizavam noutra vogal ou em consoante, nem todos conservaram no romance o género que tinham em latim; alguns até houve, especialmente neutros, que numas línguas tomaram um género, noutras outro.» (pág. 221; 8.ª edição, 1975).