As frases apresentadas pelo consulente estão corretas e são aceites em português europeu e brasileiro. No entanto, convém analisá-las para se perceber a diferença entre elas e aquilo que torna uma delas incompleta:
1. «Este homem acordava de um derrame»;
2. «Este homem acordou de um derrame.»
Trata-se de duas frases cujo tempo verbal é distinto: em 1. o tempo verbal é o pretérito imperfeito, e em 2. o verbo ocorre no pretérito perfeito.
Assuma-se que estes dois verbos se distinguem por «o pretérito imperfeito exprim[ir] o facto passado habitual» e «exprim[ir] a acção durativa, e não a limita[r] ao tempo». Já o pretérito perfeito exprime o facto passado «não habitual», «indica a acção momentânea, definida no tempo» e apresenta a situação como concluída (Cunha e Cintra, Gramática do Português Contemporâneo, pp. 450/451, 1984).
Sendo assim, pode-se propor que a afirmação em 2. se refere a um intervalo passado, em que um homem acordou de um derrame, situação descrita como não habitual, momentânea e concluída. Já a afirmação 1. precisa de uma outra análise. A verdade é que, apesar de estar correta, a frase «este homem acordava de um derrame» precisa de ter associada a marcação de tempo de referência, de outro modo, a construção não é adequada para descrever situações localizadas no passado relativamente ao tempo da enunciação, há como que uma falta de enquadramento. Posto isto, aceitam-se construções como em (3) ou (4):
3. «Este homem acordava de um derrame, após ter sido hospitalizado»;
4. «Um dia, o doente da cama n.º 3 saiu finalmente do coma. Este homem acordava de um derrame.»
O imperfeito mostra-nos, assim, que a ação de acordava, apesar de estar associada a uma ação que não deve ser habitual – «acordar de um derrame» –, tem implícito um processo de tempo alargado, que se sobrepõe, total ou parcialmente, a um tempo do passado.