Não existe uma forma única de explicar esse uso do pretérito perfeito do indicativo, porque muito depende também da língua materna dos alunos. Mesmo assim, para falantes de espanhol, inglês, italiano, francês e alemão, que têm um tempo perfeito formado por um auxiliar equivalente a ter (e também a ser no italiano, no francês e no alemão) + particípio passado, pode explicar-se que, em português, o mesmo tempo verbal recobre os valores temporais que, nessas línguas, estão separados entre um tempo simples (pretérito simples, passé simple, past tense) e um tempo composto (pretérito prefeito composto, passé composé, present perfect, etc.).
Assim, a diferença que existe em inglês entre:
(1) I lived in England many years ago.
e
(2) I have always lived in England.
reduz-se em português ao mesmo tempo verbal:
(3) Vivi em Inglaterra há muitos anos.
(4) Vivi sempre em Inglaterra.
É natural que alunos estrangeiros perguntem que valor tem então o pretérito perfeito composto em português. Este tempo tem usos mais restritos que os tempos compostos correspondentes nessas línguas. Diga-se, de uma maneira muito genérica e simplificada, que marca um estado ou uma ação que têm o seu começo no passado e se repetem ou se prolongam até ao presente: «tenho lido muito desde o ano passado» (= «do ano passado até agora, li um livro, depois li outro e li mais outro, etc.»; cf. respostas indicadas nos Textos Relacionados).