Sem outro contexto que possa, eventualmente, interferir na análise aqui proposta, considero que a frase provoca alguma estranheza.
Na frase apresentada, o constituinte «até há instantes» cria um tempo de referência, identificado com o passado, que serve de âncora para o uso do pretérito imperfeito:
(1) «Até há instantes, eu tremia furiosamente»
Em (1), a expressão localiza a situação no passado, estendendo o intervalo de tempo em que ela tem lugar até quase ao momento da enunciação (o presente de quem fala). Para além disso, o imperfeito associa à situação que descreve o valor de duração (ou seja, o locutor tremeu durante algum tempo).
O pretérito mais-que-perfeito, por seu turno, é um tempo que «localiza uma situação no passado relativamente a outra situação também passada, tomada como ponto de referência»1.
Ora, como a ordenação das situações na frase parece corresponder à ideia de que o «conseguir acalmar» é simultâneo ao tremer e prolonga-se para além do fim desta situação, o uso do pretérito mais-que-perfeito não parece justificar-se, porque, na frase (1), «conseguir acalmar» não é anterior a tremer. Por esta razão, seria preferível o uso do pretérito perfeito, que se articula de forma mais clara com o uso do pretérito imperfeito:
(2) «Até há instantes, eu tremia furiosamente, mas consegui, por fim, acalmar.»
Em (2), o constituinte «consegui acalmar» permite fazer coincidir a situação com tremer, prolongando-a para além do seu fim. Para além disso, expressa um valor de situação concluída relativamente ao momento presente.
Disponha sempre!
1. Oliveira in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 524.