A vírgula marca uma pausa de pequena duração e emprega-se não só para separar elementos de uma oração, mas também orações num mesmo período. No interior de uma oração, a vírgula permite separar elementos que desempenham a mesma função sintáctica (no exemplo indicado pela consulente, esses elementos constituem um sujeito composto), quando não ocorrem as conjunções e, ou ou nem. No entanto, numa enumeração que constitua um sujeito composto, não é de recomendar o uso de vírgula entre o último membro dessa enumeração e o predicado, seguindo-se assim o preceito de nunca separar o sujeito do predicado pelo referido sinal de pausa. Diz Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, pág. 609):
«[Emprega-se a vírgula] para separar termos coordenados, ainda quando ligados por conjunção (no caso de haver pausa):
[...]
— Ah! brejeiro!Contanto que te não te deixes ficar aí inútil, obscuro, e triste" [Memórias Póstumas de Brás Cubas, 93]
Observação: Na série de sujeitos seguidos imediatamente de verbo, o último sujeito da série não é separado do verbo por vírgula:
Carlos Gomes, Vítor Meireles, Pedro Américo, José de Alencar tinham-nas começado [Carlos de Laet, Obras Completas].»
Deverá, pois, escrever-se:
«A luminosidade, a frescura tépida, as cores súbitas, a suavidade pareciam indicar a chegada definitiva da Primavera.»
Vemos que, neste passo, Cunha e Cintra dão uma abonação de Teixeira de Pascoaes, na qual há vírgula entre o último termo da enumeração constitutiva do sujeito e o predicado. No entanto, não me parece que estes gramáticos contrariem explicitamente Bechara, porque, depois (ibidem), apresentam o exemplo de uma estrutura de coordenação ligada por nem, sem vírgula entre o último membro e o predicado:
Quanto à vírgula do Pascoaes, é possível que a intenção fosse sugerir a seguinte leitura:
«A luminosidade, a frescura tépida, as cores súbitas, a suavidade, todas pareciam indicar a chegada definitiva da Primavera.»
Ou seja, a vírgula entre o último elemento da enumeração e o predicado marcaria a elipse de uma palavra que retomasse essa enumeração. Mesmo assim, penso que a justificação deste uso menos canónico da vírgula é um tanto rebuscada, porque não é possível considerar a subjacência de «todas» da mesma maneira que o fazemos quando se elide um predicado («os elefantes são grandes e as formigas, pequenas», em que a vírgula indica a omissão do verbo ser). Eu diria que a vírgula pascoaliana, sem se poder dizer que está errada, porque parece marcar um ponto culminante na curva entoacional do enunciado, não corresponde às regras gerais de aplicação desse sinal de pausa.
Por último, refira-se que há um caso em que é possível (mas, atenção, não obrigatório) pôr vírgula entre sujeito e predicado: depois de «sujeito expandido pela oração adjetiva» (ver Bechara, idem, pág. 610): «Os que falam em matérias que não entendem, parecem fazer gala da sua própria ignorância» (Marquês de Maricá).